Primeiro movimento concreto de partidos do centro e da esquerda para as eleições estaduais no RS em 2022, o lançamento da pré-candidatura do ex-deputado Beto Albuquerque (PSB) ao governo do RS no último sábado já tem desdobramentos, e tende a gerar novas articulações nas próximas semanas. A ação do PSB, que busca inserir o nome de Beto em uma chapa regional atrelada às negociações nacionais com o PT e o PCdoB, é avaliada internamente pelas duas siglas.
No PT, o movimento deve acelerar o fechamento de um calendário de atividades para aumentar a visibilidade do deputado estadual Edegar Pretto, até agora apontado como o pré-candidato do partido ao governo, mas que, por enquanto, não obtém índices animadores nos levantamentos internos. De público, os petistas gaúchos asseguram que trabalham pela construção de uma composição entre as três legendas. Internamente, contudo, o nome de Beto, para encabeçar a chapa, enfrenta resistências. O secretário-geral do PT/RS, Carlos Pestana, se limita a dizer que hoje Pretto é o nome do partido para a construção de uma frente política que inclua o PSB e o PCdoB.
Nos bastidores, outras lideranças petistas admitem a dificuldade em superar o ‘passado recente’: entre outros pontos, o apoio de Beto a Aécio Neves (PSDB); as críticas contundentes a Lula (PT); e a participação dos socialistas nos governos José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB). Parte das lideranças considera mais ‘palatável’ uma composição na qual Beto ocupe a vaga para o Senado. Mesmo que, com discrição, o atual presidente estadual, o deputado federal Paulo Pimenta, também considere disputar o Senado.
O PCdoB tem na mesa para compor a chapa majoritária o nome da ex-deputada Manuela D’Ávila, mas depende de várias questões nacionais e locais para fechar as articulações. A sigla apostava no projeto de lei que instituía federações de partidos políticos para driblar temporariamente a cláusula de barreira e o problema que ela impõe para sobrevivência de pequenas legendas, mas o texto foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro e há uma costura no Congresso para manter o veto. Outra possibilidade para o PCdoB é a volta das coligações nas chapas proporcionais, que também ainda segue em suspenso. Se nada der certo, é concreta a chance de fusão com o PSB. Por isso, o cenário continua em aberto.
O partido depende ainda de uma definição da própria Manuela. Por questões particulares, ela não deseja voltar para Brasília, o que exclui automaticamente a vaga do Senado. Os dirigentes partidários consideram também que, pela ‘estatura’ já alcançada, a ex-deputada não se encaixa como vice nem de Pretto e nem de Beto. Nesta lógica, sobraria ou a cabeça de chapa para o governo ou a Assembleia Legislativa. “Ainda não temos nenhum acúmulo de debate eleitoral no RS. Estamos conversando com todos do nosso campo político, mas não há definição, e nomes não são prioridade neste momento”, afirma o presidente estadual do PCdoB, Juliano Roso.
Sondagens influenciam articulações
O pano de fundo da movimentação do PSB gaúcho que começa a acelerar articulações na esquerda é a pesquisa interna encomendada pelo partido. Porque o levantamento, na disputa para o governo, apontou Beto com 8%, índice superior ao de Pretto, e, também, ao de outros já pré-candidatos ou que ensaiam candidaturas. Entre eles o senador Luis Carlos Heinze (PP), o deputado federal e presidente estadual do MDB, Alceu Moreira, o presidente da Assembleia Legislativa, Gabriel Souza (MDB), o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan (PDT), e o vice-governador, Ranolfo Vieira Júnior. O ministro Onyx Lorenzoni (DEM) e Manuela D’Ávila (PCdoB) apareceram com dois dígitos. E surpreendeu o fato de o ex-governador Tarso Genro (PT) estar à frente de todos. Mas Tarso, garantem seus interlocutores, assim como o ex-governador José Ivo Sartori (MDB), não desejaria disputar novamente o Piratini. A segunda surpresa da sondagem, que também contribuiu para o movimento do PSB, foi o fato de Lula aparecer no RS à frente de Bolsonaro na eleição nacional.