Saúde mental dos adolescentes foi a mais impactada na pandemia, diz pesquisa

Efeitos da pandemia na saúde mental pode durar muito tempo para passar | Foto: Willgard Krause / Pixabay / divulgação / CP

A farmacêutica Pfizer divulgou, na quarta-feira, uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Cananéia (IPEC) sobre os efeitos da pandemia na saúde mental dos brasileiros. O dado mais preocupante, apontado pelos médicos, é o crescimento da transtornos mentais e depressão entre os jovens de 18 a 24 anos.

O estudo ouviu 2 mil pessoas, a partir de 18 anos, nas cidades de Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, sendo 47% de homens e 53% de mulheres. Os entrevistados foram ouvidos no mês de agosto e 30% das pessoas classificaram a própria saúde mental como ruim ou muito ruim, 41% afirmou estar normal, 17% boa e 12% muito boa. Entre os jovens, essa taxa de ruim ou muito ruim é de 50% dos participantes da pesquisa.

Quais os sintomas mais frequentes?

– 38% tiveram insônia;
– 38% tiveram irritação;
– 36% tiveram angústia ou medo;
– 32% sentiram tristeza;
– 21% tiveram crises de choro;
– 18% tiveram excesso de sono;
– 14% tiveram palpitações;
– 14% tiveram falta de ar;
– 11% tiveram sensação de morte;
– 10% tiveram diminuição de apetite;
– 9% tiveram tremores.

“Chama atenção, talvez que aquelas pessoas que se consideram normais, não estão atentas para algumas características que estão acontecendo com elas. O diagnóstico é o que mais preocupa, porque as pessoas falaram que estavam bem, mas tiveram sintomas”, afirma Márjori Dulcine, diretora médica da Pfizer.

A falta de diagnósticos é o que mais preocupa os profissionais de saúde. Entre as 2 mil pessoas ouvidas, somente 21% procuraram ajuda a partir dos sintomas, e apenas 11% disseram estar em tratamento. 15% não procuraram, mas acreditam que precisam de ajuda; e 63% não procuraram cuidados médicos.

Mais de 50% dos entrevistados afirmaram que não conhecem ninguém diagnosticado com problemas de saúde mental durante a pandemia.

Como está o tratamento dos diagnosticados?

– 31% fazem tratamento presencial com profissionais;
– 17% fazem tratamento via online com profissionais;
– 20% sabem da doença e não tratam;
– 16% não estão em tratamento, mas pretendem começar
– 29% usam medicamentos com prescrição médica;
– 4% usam medicamentos por conta própria.

Quais são as doenças mais encontradas?

– 16% ansiedade;
– 8% depressão;
– 3% síndrome do pânico
– 2% fobia social;
– 1% transtorno bipolar;
– 1% dependência química;
– 1% transtorno obsessivo compulsivo;
– 1% outros problemas.

Michel Haddad, psiquiatra do Hospital do Servidor Público de São Paulo e pesquisador da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma que os problemas mentais são multifatoriais. “Não é apenas o isolamento que é a causa dos transtornos mentais, é um conjunto de fatores que incluem problemas financeiros, medo da doença”, diz ele.

O que mais causou transtorno?

– 23% citaram problemas financeiros;
– 18% citaram medo de pegar covid-19;
– 12% citaram morte de alguém próximo;
– 8% citaram menor convívio com familiares e amigos;
– 5% citaram solidão;
– 5% citaram acúmulo de tarefas;
– 4% citaram medo de perder o emprego;
– 2% citaram trabalho em casa;
– 2% citaram maior convivência com trabalhadores.

O médico salienta que a pandemia não fez surgirem os problemas de saúde mental, só agravaram, principalmente no Brasil. “A pandemia só veio escancarar o problema, já vinha acontecendo ao longo das últimas duas décadas. Agora se tornar emergente o cuidado com o problema. Pela PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), feita em 2019 pelo IBGE, temos 34,2% da população brasileira deprimida. Somos o país mais deprimido da América Latina”, alerta Haddad.

Ele, ainda acrescenta, que os efeitos do agravamento causados pela pandemia não vão acabar com o fim do problema sanitário. “Vamos continuar vendo por algum tempo esses movimentos de transtornos. Estamos passando por profundas alterações que não serão resolvidas rapidamente. Mesmo depois de um controle das questões sanitárias, os impactos da pandemia no nosso psiquismo vão ficar por muito, muito tempo. Arrisco dizer que será para sempre”, explicou o psiquiatra.

A pesquisa foi lançada no dia 1º de setembro, que marca o começo do mês da campanha mundial de prevenção ao suicídio.