Últimos voos dos EUA já deixaram o Afeganistão

Operação retirou mais de 123 mil civis do país, controlado pelo Talibã

Último soldado americano deixa o Afeganistão. Foto: Twitter/Department of Defense

Os últimos aviões militares dos Estados Unidos deixaram o Afeganistão com tropas e funcionários diplomáticos, nesta segunda-feira, a um dia de acabar o prazo acordado com o Talibã. O comandante do Centcom, o comando central norte-americano, general Frank McLenzie, formalizou o anúncio no Pentágono, em Washington.

As decolagens marcaram o fim da mais longa guerra dos EUA, que durou pouco menos de 20 anos, com uma ocupação custosa e que terminou em uma retirada caótica após a queda do governo afegão de Ashraf Ghani, no último dia 15.

Pela primeira vez desde 2001, não há mais tropas dos EUA e dos aliados em solo afegão. Segundo a imprensa norte-americana, o país gastou cerca de US$ 2 trilhões (cerca de R$ 10,4 trilhões em valores atuais) ao longo desse período. Pouco menos de 2 mil soldados do país morreram em ação durante a ocupação.

De acordo com uma fonte do Departamento de Estado, também não há mais pessoal diplomático do país no Afeganistão. “Não teremos mais civis no local após a partida dos militares”, disse.

“Estou aqui para anunciar o término da nossa retirada do Afeganistão e o fim de nossa missão de evacuar cidadãos norte-americanos, cidadãos de outros países e afegãos em situação de vulnerabilidade. O último cargueiro C-17 decolou do aeroporto internacional Hamid Karzai às 15h29min (horário de Washington, 16h29min no horário de Brasilia) e a última aeronave está deixando o espaço aéreo do Afeganistão”, disse McKenzie em pronunciamento no Pentágono.

O horário era o último possível pelo acordo. Em Cabul, a decolagem ocorreu às 23h59min, um minuto antes do prazo. Os últimos a embarcarem no cargueiro foram o embaixador norte-americano em Cabul, Ross Wilson, em um general.

Segundo McLenzie, apesar de a retirada militar ter sido encerrada, a missão diplomática para retirar em segurança os últimos cidadãos norte-americanos e afegãos que querem deixar o país prossegue.

“A retirada de hoje é o fim do componente militar da evacuação e também o fim de uma missão de quase 20 anos que começou no Afeganistão logo após o 11 de setembro de 2001. É uma missão que deu um fim justo a Osama bin Laden e vários de seus comparsas da Al Qaeda. Não foi uma missão barata. O custo foi de 2.461 militares e civis norte-americanos mortos e mais de 20 mil feridos”, relatou o oficial.

Operação retirou mais de 123 mil civis do Afeganistão

A operação de retirada do Afeganistão se confirmou como a “maior operação envolvendo não-combatentes da história”, segundo o general Frank McKenzie. De acordo com ele, mais de 123 mil civis foram retirados de Cabul nos últimos 18 dias.

McKenzie afirmou que, nesse período, desde a tomada de Cabul pelo Talibã, 79 mil civis deixaram o país em voos operados pelos militares norte-americanos, incluindo cerca de 6 mil cidadãos dos EUA e mais de 73 mil afegãos e pessoas de outros países.

“Nossa coalizão conseguiu evacuar esses milhares de pessoas graças aos serviços dos militares dos EUA que fizeram a segurança e a operação do aeroporto”, disse o general.

A operação tirou, em média, mais de 7,5 mil civis por dia. Em apenas um dia, foram mais de 19 mil, acrescentou.

Mesmo assim, afirmou o general, a operação não conseguiu retirar do Afeganistão todas as pessoas que previa. Segundo o Departamento de Estado, no domingo ainda havia cerca de 250 norte-americanos e um número não divulgado de afegãos buscando a retirada. Ainda não se sabe quantos permanecem no país.

“Mas acho que se tivéssemos permanecido mais 10 dias, ainda assim não conseguiríamos tirar todos os que queríamos e ainda haveria pessoas desapontadas com isso. É uma situação muito difícil”, reconheceu McKenzie. “Quero ressaltar que porque saímos não significa que não haverá mais oportunidades para norte-americanos que estão lá e afegãos que querem sair”, completou.