CPI da Covid ouve diretor do FIB Bank nesta quarta-feira

Nessa terça, sócio da empresa Belcher confirmou ter conversas periódicas com Ricardo Barros, mas negou ter discutido vacina

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 ouve, nesta quarta-feira (25), o diretor-presidente do FIB Bank, Roberto Pereira Ramos Júnior. A intenção dos senadores é obter mais informações sobre as negociações da empresa Precisa para a compra da vacina Covaxin.

Nessa terça-feira, o diretor tentou adiar o depoimento sob a alegação de que precisaria levantar mais dados e documentos para apresentar à CPI.

A FIB Bank presta serviço de garantia de fianças e atuou como garantidora do contrato da Precisa Medicamentos, para a venda de 20 milhões de doses da Covacin, com o Ministério da Saúde, segundo os senadores.

Depoimento anterior

Nessa terça-feira, os senadores ouviram o depoimento do sócio da Belcher Farmacêutica, Emanuel Catori. Na avaliação dos integrantes da CPI, a audiência reforçou a relação da empresa com o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Ao longo de toda a oitiva, na terça-feira , eles ressaltaram pontos em comum entre a empresa, as negociações, e o líder do governo.

Foi ele, por exemplo, que levou Catori a uma reunião no Ministério da Saúde, com a presença do ministro Marcelo Queiroga, como admitiu o empresário, negando que no encontro tenha sido discutido vacinas contra covid-19. Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), a oitiva deixou clara a relação da Belcher com Barros.

“A presença do Barros com representantes da Belcher em reunião do Ministério da Saúde… Barros tem o comando do Ministério da Saúde. Já foi ministro, e está por trás de várias tentativas de intermediar negócios entre empresas e o ministério”, disse. O senador se refere às negociações envolvendo a Precisa Medicamentos.

O nome de Barros surgiu na CPI justamente no âmbito desta empresa, depois que o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) disse que ao denunciar suspeitas envolvendo a importação da vacina indiana Covaxin, do laboratório Bharat Biotech, o presidente Jair Bolsonaro disse que a situação parecia ser “rolo” de Barros. O parlamentar sempre negou as acusações, e disse que nunca participou de negociações de vacina.

“Hoje tem importância porque é mais um fato que vai definir o modo operacional com que o deputado Ricardo Barros atuava dentro do ministério”, pontuou. Na oitiva, Catori disse inicialmente que não foi levado à reunião por Barros, e depois, admitiu que foi ele que o marcou o encontro.

O depoente negou que a empresa tenha qualquer relação com Barros e que o deputado não atuou como facilitador. Perguntado se em seu telefone seriam encontradas conversas entre ele e Barros, ele negou, mas, imediatamente corrigiu. “Conversas… Eu converso com ele normalmente, mas nada sobre negócios”, afirmou, admitindo manter conversas periódicas com o deputado.

“Em nenhum momento, ele me ajudou em nada sobre a vacina. O Brasil todo soube da nossa vacina. Para vacina, a gente não precisa de nenhuma interferência política, ainda mais em se tratando de uma vacina de uma dose”, disse Catori.

Com sede em Maringá (PR), cidade onde Barros foi prefeito, um dos sócios da Belcher é filho de Francisco Feio Ribeiro Filho, que atuou na prefeitura da cidade na gestão de Barros e é amigo do deputado. Além disso, o advogado Flávio Pansieri, que foi contratado pela Belcher para atuar na área regulatória, já foi advogado de Barros e sócio em um escritório de advocacia do genro do deputado, Diego Campos. Perguntado pelo vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Catori disse que a relação era “mera coincidência”.

O senador Humberto Costa pontuou que ao longo da oitiva, o depoente disse que Barros não tinha “nada a ver com isso”. “Mas tudo tangencia: a empresa é de Maringá, vossa senhoria é de Maringá, o sócio de vossa senhora é filho de uma pessoa que já exerceu funções públicas na prefeitura de Maringá quando ele (Barros) era prefeito, funções públicas no governo do Estado quando a esposa do deputado era governadora”, ressaltou.

Costa afirmou que é difícil acreditar que o Ministério da Saúde simplesmente tenha descoberto a empresa. “É difícil acreditar que não tenha havido algum tipo de ajuda para que isso acontecesse e que isso tenha sido feito pelo senhor Ricardo Barros. Eu vejo que ele teve papel de definir o marco legal, de indicar a Belcher como intermediária para a compra dessa vacina”, frisou.