Lasier propõe prazo para análise de impeachment de ministros do STF

Projeto estabelece que solicitações sejam analisadas em 15 dias. Sem manifestação do presidente do Senado, maioria da Mesa pode se manifestar

Senador Lasier Martins testa positivo para Covid-19 | Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado / CP

Em meio à tensão institucional entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o Supremo Tribunal Federal (STF), o senador gaúcho Lasier Martins (Podemos) tenta fazer andar um projeto de sua autoria (PRS 11/2019) que agiliza a apreciação, na Casa, de pedidos de impeachment de ministros do STF e do procurador-geral da República. É para o Senado que são encaminhadas as solicitações feitas contra ministros do STF e o PGR, enquanto que aquelas contra o presidente da República são direcionadas à Câmara dos Deputados.

O projeto de resolução 11/2019 prevê que o presidente do Senado tenha 15 dias úteis para comunicar ao plenário o acolhimento ou indeferimento de pedidos de impeachment. Caso isso não ocorra dentro do prazo, a maioria da Mesa poderá fazê-lo. E a decisão, do presidente ou da Mesa, poderá ainda ser alvo de recurso ao plenário, assinado por pelo menos um terço dos senadores.

Nesta terça-feira, Lasier tem reunião agendada com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (Dem/MG), para solicitar encaminhamento, de forma que o texto seja colocado em votação. Desde 2019, o PRS não saiu da CCJ da Casa, onde está sob relatoria do senador Marcos Rogério (Dem/RO). Líder do Dem no Senado e vice-líder do governo no Congresso, Rogério tem se destacado como um dos maiores defensores da gestão Bolsonaro na CPI da Covid.

A movimentação de Lasier ocorre em um momento de escalada no tensionamento entre os poderes e no qual três fatos ocupam nesta semana o centro das atenções. O pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, protocolado por Bolsonaro na última sexta-feira. Os atos planejados por bolsonaristas para o 7 de Setembro. E a sabatina do procurador-geral da República, Augusto Aras, na CCJ do Senado também nesta terça, 24, após ele ter sido indicado por Bolsonaro para permanecer por mais dois anos à frente da PGR.

Senador considera que mudança é apropriada

Lasier, que se classifica como independente (nem governista e nem oposicionista), defende que uma decisão colegiada seria o mais indicado principalmente em momentos de grande tensão, como o atual. “O presidente Rodrigo Pacheco é um homem de acomodação, mas o momento não se presta para isso. Se segurar o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, vai ser atacado pelos bolsonaristas. Se der seguimento, apanha das associações e da mídia. Tem que compartilhar isso, não pode depender de uma única vontade.” No final de 2020, pouco antes de deixar o cargo, o então presidente do Senado, Davi Alcolumbre (Dem/AP), arquivou 38 pedidos de impeachment: 36 contra ministros do STF e dois contra o PGR. Conforme o senador gaúcho, já há pelo menos outros 17 protocolados na Casa.

Questionado se seu projeto não abre um debate mais amplo, sobre se a mesma sistemática deveria valer para a Câmara dos Deputados, Lasier diz que não porque, na sua avaliação, as duas Casas têm “suas independências”. Como ocorre hoje no Senado, cabe exclusivamente ao presidente da Câmara a decisão de acolher ou não os pedidos de impeachment, neste caso contra o presidente da República, com apreciação também sem prazo definido. “Existe um mundo de pedidos de impeachment contra o presidente Bolsonaro, mas aí isso é com a Câmara. Sou senador, não deputado”, justifica Lasier.

Na Câmara, há mais de 120 pedidos de impeachment contra Bolsonaro ainda não apreciados. Apesar da pressão cada vez maior, o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP/AL), aliado do governo, segue sem dar desfecho às solicitações. A pressão sobre Lira também vai aumentar a partir da segunda quinzena de setembro, para quando está prevista a conclusão do relatório da CPI do Covid, que deve incriminar Bolsonaro.