Caso João Alberto: Polícia diz que reconstituição não acrescentou fatos novos ao inquérito

Reprodução simulada dos fatos foi feita a pedido da defesa de um réu

Análise preliminar da Polícia Civil sobre a reconstituição foi divulgada nesta sexta-feira. Foto: Alina Souza/Correio do Povo

A reprodução simulada dos fatos acerca da morte de João Alberto Silveira Freitas, que foi espancado no estacionamento de uma das unidades do Carrefour, em Porto Alegre, há nove meses, não revelou fatos novos aos responsáveis pela investigação do caso. A conclusão é da Polícia Civil, revelada nesta sexta-feira (13) em coletiva de imprensa.

Segundo a chefe de Polícia Nadine Anflor, o inquérito já estava completo após os trabalhos realizados no ano passado – que incluíram oitivas com os envolvidos e a análise dos vídeos feitos no momento do possível assassinato. “É claro que o resultado da reconstituição será posterior, e está à cargo do Instituto-Geral de Perícias”, ressalta.

A loja onde a morte ocorreu, localizada no bairro Passo D’Areia, recebeu peritos, acusados e testemunhas do caso em duas madrugadas. Antes de comparecerem ao supermercado, para o relato do que presenciaram no dia em que João Alberto foi espancado, todos tiveram de prestar um novo depoimento às autoridades.

A análise do IGP não tem data para ficar pronta. Entretanto, a intenção do órgão é liberar os laudos o mais rápido possível, para que sejam acrescidos ao processo que está em andamento.  “As imagens não tem áudio. Então, vamos procurar buscar detalhes nos relatos, coisas que não aparecem nas imagens”, explica a perita criminal Cátia Fert.

Tolueno

No início da semana, a defesa do ex-policial militar Giovane Gaspar Silva revelou que o exame toxicológico de João Alberto, que acusou a presença da substância Tolueno no organismo da vítima, poderia causar uma reviravolta no caso. Isso porque o solvente, supostamente, poderia agravar casos de asfixia e provocar alterações de comportamento.

No entendimento das autoridades, entretanto, é pouco provável que as conclusões sobre a morte sejam alteradas. “É preciso fazer a análise conjunta dos laudos de necropsia e toxicologia. Não há como dizer se essa substância causou a morte. É assim com todas as substâncias”, ressalta o diretor do Departamento de Perícias Laboratoriais do IGP, Daniel Scolmeister.

Relembre o caso

João Alberto, de 40 anos, foi espancado e morto por dois seguranças brancos em uma unidade do Carrefour, em Porto Alegre, às vésperas do Dia da Consciência Negra. O crime foi registrado em vídeo por testemunhas – imagens que foram reproduzidas em veículos de comunicação de todo o mundo e chocaram pela brutalidade do ataque.

João Alberto tenha sido levado da área onde ficam os caixas do supermercado para a entrada da loja, onde começou uma briga. As testemunhas do assassinato chegaram a acionar equipes de socorro, que não chegaram a tempo de salvar a vítima. A perícia indicou que a causa da morte tenha sido asfixia.

Seis pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público por participação no homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Giovani Gaspar da Silva, de 24 anos, e Magno Braz Borges, de 30 anos, eram os seguranças que agrediram Beto. Eles seguem presos.

Adriana Alves Dutra, funcionária que tenta impedir gravação de imagens no momento das agressões, está em prisão domiciliar; Paulo Francisco da Silva, funcionário da empresa de segurança Vector, e Kleiton Silva Santos e Rafael Rezende, funcionários do supermercado, respondem em liberdade.