Com o avanço da vacinação contra o coronavírus e a projeção de aplicação de uma terceira dose para a população, o Uruguai projeta reabrir as fronteiras no início de setembro. Foi o que afirmou, nesta sexta-feira, o embaixador do Uruguai no Brasil, Guillermo Valles, em entrevista ao programa Boa Tarde Brasil, da Rádio Guaíba. Ao comentar as medidas adotadas pelo uruguaio Luis Alberto Lacalle Pou, Valles destacou que o conhecimento científico e a ‘liberdade responsável’ nortearam as ações de combate à pandemia da Covid-19.
Para Valles, o fechamento das fronteiras com outros países, como o Brasil, representa um sacrifício do ponto de vista econômico, ético e moral. Ele alertou, no entanto, que é uma questão de prioridade de saúde. “O governo está estudando abrir gradualmente as fronteiras no começo de setembro. É uma questão profunda para a gente, pois temos 3,5 milhões de habitantes e vivemos de turismo”, observou. Ele destacou o avanço da vacinação no Uruguai e no Brasil. “No Uruguai vamos começar com a terceira dose, para reforçar a vacinação, na semana que vem”, completou.
Sem impor restrições severas, o governo uruguaio contou com bom senso da população para evitar aglomerações e reforçar as medidas sanitárias para evitar a disseminação do vírus. “O presidente Lacalle sempre tratou desse assunto a partir de uma liberdade responsável e com transparência absoluta”, assinalou. Valles afirmou que o governo jamais pensou em ‘fechar tudo’. “Não tomamos medidas autoritárias, até porque do ponto de vista prático são impossíveis”, reforçou. O embaixador também defendeu maior integração entre os países.
Em relação ao Rio Grande do Sul, Valles destacou a importância da construção da segunda ponte que liga Jaguarão a Rio Branco. E garantiu que a obra deve ser binacional, confirmando a ideia de integração entre os países. “Deve ser uma ponte modesta, segura, eficiente. Isso que precisamos, não precisamos de obra de arte, porque não podemos fazer diante do momento de nossas economias”, frisou. O secretário Nacional de Transportes Terrestres, Marcello da Costa Vieira, afirmou que existe a possibilidade de a discussão sobre a construção da obra avançar no ano que vem.
Conforme Vieira, o tema é tratado como prioridade pelo governo federal, que também avalia a restauração da ponte histórica. “A ponte atual não permite alargamento, por isso a necessidade de construir a segunda ponte”, observou. Vieira justifica que a restrição orçamentária impediu o início da obra. “Temos esperança de que ao longo de 2021, numa suplementação orçamentária, colocar R$ 10 milhões para iniciar a contratação da ponte através do seu projeto”, afirmou. Segundo Vieira, se o projeto avançar esse ano, em 2022 uma empresa deve estar contratada para iniciar a obra da segunda ponte.
O senador Luis Carlos Heinze (Progressistas) explicou que a construção da ponte interessa ao Uruguai e ao Brasil. “Podemos colaborar com um pedaço da ponte. Temos que simplificar a ponte, e depois estudar a entrada uruguaia no projeto”, destacou.
Também ao participar do programa, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, defendeu maior integração entre os países da América do Sul. “Tem um assunto mal resolvido chamado Mercosul, tem muito discurso e pouca prática. O Brasil tem uma relação comercial interessante com o Uruguai, mas integração vai além disso”, criticou.
Privatização da Corsan
Um dos convidados do programa, o chefe da Casa Civil, Arthur Lemos, comparou os índices de tratamento do esgoto no Rio Grande do Sul e no Uruguai. Lemos explicou que o debate sobre saneamento no Estado ganhou força a partir do encaminhamento da privatização da Corsan. Segundo Lemos, 99,7% da população uruguaia conta com acesso à água, e 96,4% com serviço de esgoto. “No RS temos 30% da população com acesso a tratamento de esgoto. É muito baixo e é esse o desafio que estamos discutindo”, destacou.
Conforme Lemos, os 307 municípios hoje atendidos pela Corsan carecem de um investimento estimado em R$ 1 bilhão. “O máximo que ela conseguiu, por mais recursos financeiros que ela dispusesse naquele momento, e com governo federal colocando inclusive no orçamento recursos da União, nunca ultrapassou a média de R$ 350 milhões em investimentos”, concluiu.