Uma pesquisa inédita, desenvolvida pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGCS/Ufrgs) analisou em detalhes a contaminação por metais no Arroio Dilúvio, entre Viamão e Porto Alegre. Os pesquisadores descobriram que a poluição do córrego cresce ao longo da extensão, levando para o Guaíba metais potencialmente tóxicos como zinco, chumbo e cobre, além de elementos orgânicos, como carbono, nitrogênio e fósforo.
A pesquisa de mestrado do engenheiro agrônomo Vinícius Maggioni dos Santos também descobriu que também há concentração desses metais nas chamadas “ilhas”, os bancos de areia que vão se acumulando no meio do arroio. Por outro lado, as plantas que crescem espontaneamente no curso do Dilúvio servem, potencialmente, como barreiras para os contaminantes, reduzindo a quantidade que chega ao Guaíba.
“Essa é a primeira avaliação com esse nível de detalhamento da poluição ao longo do arroio, especialmente focando na contaminação por metais potencialmente tóxicos, que não é visível e nem perceptível no gosto ou no odor da água”, enfatiza Tales Tiecher, coorientador de Vinícius e professor do PPGCS.
A contaminação ao longo do arroio, que se estende por 18 km, já é percebida na parte inicial, no Parque Saint-Hilaire, em Viamão, onde o estudo identificou alto índice de carbono. Segundo os pesquisadores, ao longo da extensão, o esgoto doméstico das comunidades vizinhas é lançado na água sem tratamento adequado, o que potencializa o acúmulo de metais poluentes.
Soluções e prevenção
Além da dragagem do arroio, que não é feita desde 2018, os pesquisadores sugerem que uma possível solução para o Dilúvio possa ser o uso de plantas aquáticas para a descontaminação. “Existem estudos que utilizam plantas que boiam na água, as macrófitas, colocadas em uma espécie de caixa. De tempos em tempos, recolhe-se a caixa, incinera-se aquela planta, e outra caixa com outra planta é colocada”, pontua o pesquisador e integrante do grupo Leonardo Capeleto de Andrade. Ele frisa que, para que a solução seja efetiva, é preciso que várias ecobarreiras sejam implantadas e com manutenção regular.
Os pesquisadores também lembraram que os resultados podem guiar políticas públicas de trânsito, meio ambiente e saneamento. Segundo eles, órgãos públicos estaduais e municipais, como a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e o Departamento Municipal de Água e Esgoto de Porto Alegre (Dmae) conhecem os resultados do estudo.
“O Dmae fazia análises anuais no Dilúvio e no Guaíba, em mais de um ponto, mas não consegue mais fazer isso por não ter verba. Então, quando conseguem esses dados de uma outra fonte, é um benefício enorme pra eles”, enfatizou Leonardo.
Consultado, o Dmae prometeu se manifestar assim que os técnicos finalizarem a análise do estudo.