Pazuello “previu” demissão e desabafou sobre boicote a vacina nacional, relata deputado a CPI

Luis Miranda disse que ex-ministro da Saúde suspeitou de demissão por pressões políticas e de esquemas de corrupção na pasta

Foto: Pedro França / Agência Senado / Divulgação / CP

O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmou nesta sexta-feira à CPI da Covid que o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello previu a demissão poucos dias antes de ela ocorrer, por pressões políticas e de esquemas de corrupção. De acordo com o parlamentar, ambos se encontraram, em março, em meio a uma operação de transporte de vacinas em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB).

“Ele olhou para minha cara, uma cara de descontentamento, e falou assim: ‘Luis, eu não duro mais nem essa semana, é certeza. Eu vou ser exonerado. Eu tenho conhecimento de algumas coisas, tento coibir, mas, exatamente por eu não compactuar com determinadas situações é que, assim, eu vou ser exonerado'”, relembrou o deputado sobre encontro com o militar.

Miranda contou que, então, insistiu para o então ministro não aceitar a situação, ao que Pazuello respondeu com o desabafo sobre o suposto boicote que sofria para desenvolver uma vacina nacional. “Ele mudou o assunto e falou assim: ‘Vou te contar uma historinha só da vacina’. Aí ele me conta a história que, desde o meio do ano passado, ele estava lutando para a gente lançar a nossa vacina. Então, ele foi travado diversas vezes, ele teve dificuldade pra poder trabalhar”, comentou.

Senadores da CPI questionaram o deputado sobre a contradição entre a fala dele com o depoimento de Pazuello à CPI. Perguntado sobre o motivo de ter saído do Ministério, o militar se limitou a responder: “Missão cumprida”.

Miranda passou, então, a falar da reação do ex-ministro à denúncia, feita por ele, de suposto superfaturamento e favorecimento na compra da vacina indiana Covaxin. Pazuello, segundo o parlamentar, relatou que, em um reunião, havia se recusado a “dar o pixuleco para o pessoal”, em uma referência à suposta propina. “O cara, olhando no meu olho, ele botou o dedo da minha cara e, olhando no meu olho, falou assim: ‘Eu vou te tirar dessa cadeira'”, disse o deputado, atribuindo a fala ao militar.

Expressão parecida (“pixulé”) já havia sido usada pelo próprio ministro, em março, ao justificar a demissão. Ele também afirmou, em conversa reservada com assessores, que vinha sofrendo pressão política por verbas federais e que havia um plano para tirá-lo do comando do ministério.