A origem do uso das plantas medicinais pelo homem remonta à pré-história. Alimentando-se de ervas e raízes, aqueles primatas utilizavam os vegetais por instinto, como medicamento. Registros arqueológicos provam que há milênios, diversos povos, principalmente os orientais, conheciam o poder das plantas medicinais como: substâncias aromáticas, óleos essenciais,remédios,venenos ou como expansoras de consciência, apurando os sentidos e provocando sensações diferentes daquelas conhecidas neste plano de realidade.
A história do uso das ervas como medicamento está associada à lendas, práticas mágicas e ritualísticas. A Índia. possui a mais antiga prática médica : a medicina ayurvédica, existente há mais de 10 mil anos. Baseadas nos Vedas – livro sagrado -contém mais de 700 produtos diferentes, codificando o uso de perfumes e substâncias aromáticas para fins cerimoniais e terapêuticos. A Índia era conhecida como o “Maná das Drogas Ativas”; exportava Canela,Mirra, Sândalo, Gengibre, Coentro e Cardamomo. Obras importantes da Farmacopéia Indiana existente há mais ou menos 4 mil anos: Susruta e Vagabtha.
A civilização egípcia, com aproximadamente 4 mil anos, ficou conhecida como o berço da medicina, perfumaria e farmácia. Os egípcios utilizavam as ervas na religião, saúde e higiene. Conheciam os efeitos das substâncias aromáticas no corpo e na psiquê. Os sacerdotes faziam sua preparações lendo fórmulas e entoando cânticos, enquanto os alunos misturavam os ingredientes. O processo de maceração e pulverização podia durar meses até chegar a determinada fragrância para uso cerimonial. Davam especial atenção às ervas aromáticas pois acreditavam que os aromas espantavam os espíritos das doenças.
O Egito era famoso pelo seu conhecimento na cosmética, exportavam ricos ungüentos, óleos perfumados, cremes e vinhos aromáticos para todo o mundo. Conheciam as propriedades das Papoulas( sonífera, calmante); a Sila ( estimulante cardíaco): Babosa ( beleza); Óleo de Rícino ( catártico), etc. Criavam complicadas fórmulas combinando substâncias de origem vegetal, animal e mineral. Dos vegetais faziam purgantes, diuréticos, vermífugos, condimentos para cozinha e cosméticos. Muitos desses conhecimentos tiveram origem na cultura hebráica, conforme verifica-se nas citações das Bíblia.
Os egípcios eram mestres no embalsamamento de cadáveres. Retiravam os órgãos internos, introduziam perfumes, resinas e preparados fragrantes. O poder antisséptico desses óleos era tão grande, que após milhares de anos, os tecidos se encontravam em bom estado. Quando no século XVII as múmias foram vendidas na Europa, os médicos destilavam-nas e usavam como ingredientes em inúmeros medicamentos.
A China, possuindo também uma medicina tradicional, há 2 mil anos publicou o primeiro livro de ervas medicinais com 365 espécies catalogadas. Desenvolveram estudos contínuos e 700 anos depois, publicaram a primeira farmacopéia com mil plantas diferentes. Cultivavam o Ruibarbo, Acônito, Romã, Gengibre -considerado sagrado e empregado em diversas moléstias.
Os chineses conheciam mais de 125 drogas consideradas tóxicas que utilizavam com eficácia nas enfermidades. Em 1578, Li-Chi-Chen reuniu todos os conhecimentos existentes no campo da Farmacologia, com 1954 prescrições médicas relacionando mais de mil drogas de origem vegetal, animal e mineral, distribuído em 16 capítulos.
Os Assírios, babilônicos, fenícios e árabes também conheciam os poderes das plantas. Relacionaram 250 ervas com propriedades curativas e os diversos modos de aplicação: infusão, cataplasma, inalação. Faziam uso do Hortelã, Aniz, Beladona. Águas Aromáticas e Tinturas. Os babilônicos, através do Código de Hamurabi, fizeram regulamentações sobre o exercício da medicina, prevendo severa punição para quem exercesse mal a profissão de médico, chegando a imputar pena de morte ao infrator.
Os gregos, contribuíram para o avanço da Farmacologia. Hipócrates, intitulado o Pai da Medicina, escreveu em 400 A.C. a obra “Corpus Hipocraticum”, onde abordava a arte de curar com diversas espécies vegetais, ressaltando a importância da alimentação natural como base para o tratamento das doenças.
Os romanos absorveram todo esse conhecimento e ficaram famosos pelo emprego das plantas venenosas com as quais muitas vezes livravam-se dos inimigos. Discórides- século I D.C – foi o fundador da matéria médica e publicou um livro com uma listagem de 600 ervas medicinais. Plínio, no mesmo século, foi o responsável pela teoria na qual afirma que para cada doença haveria uma planta específica para seu tratamento. Possivelmente, baseado em seus estudos, desenvolveu-se a doutrina dos signos, onde as divindades afirmavam que ” cada planta trazia em si, um sinal de sua utilidade para a medicina “. Plínio foi responsável por uma enciclopédia de plantas medicinais com 37 volumes.
A queda do Império Romano e o advento do Cristianismo trouxe um declínio das artes e das ciências de maneira geral, mas graças à civilização árabe, a Alquimia teve um grande avanço. Os árabes reavivaram o uso da antiga Alquimia, com origem no Deus Egípcio Tehuti e aperfeiçoaram as técnicas. O filósofo Avicena inventou a serpentina refrigerada que foi um “achado” no processo de destilação.
A visão alquimista era de certa forma, uma busca espiritual, onde a destilação era o símbolo da purificação. Afirmavam os alquimistas que tudo na natureza era feito de um corpo físico, uma alma e um espírito. O princípio básico era ” dissolve e coagula”, isto é, dissolver o corpo físico e condensar depois a alma e o espírito, concentrando dessa forma, todo o poder curativo: a Quintessência.
As substâncias eram destiladas inúmeras vezes a fim de retirar todas as impurezas e transformar-se em um poderoso remédio. As Quintessências – os óleos essenciais – foram durante séculos, o único meio de combater as epidemias.
A Alquimia foi levada para a Europa pelos Cruzados mas devido aos dogmas da Igreja, defendidos pela Santa Inquisição, muitos filósofos, alquimistas e curandeiras foram perseguidos e até queimados na fogueira.
No século XV, com o Renascimento, vai haver um grande impulso na pesquisa científica e no método experimental. Na corte de Luís XV, o médico Nicholas Lemery descreveu diversos preparados no livro ” Dictionaire des Drogues Simples”. Nessa época, difundiu-se muito, o uso da Água de Melissa e Água de Colônica.
No século XVI. destaca-se principalmente o médico suíço Paracelso ( 1493-1541) que reativou o princípio da similitude onde a forma exterior da planta indicava para qual órgão ela servia; isso, empregado até na nomenclatura. Exemplo: Pulmonária.
Paracelso aprofundou essa teoria, estabeleceu semelhanças entre a cor, a forma do remédio e os sintomas a ser tratado. Escreveu livros sobre Botânica Oculta e deu grande impulso à Farmácia Química. Segundo Paracelso, o propósito da Química era vencer as doenças e não garantir a felicidade a quem encontrasse a Pedra Filosofal.
Paracelso foi precursor da Medicina Natural. Afirmava que o papel do médico era estimular a resistência do organismo, usando remédios naturais, ajudando a desenvolver a capacidade de auto-cura do doente que deveria ter sempre pensamentos positivos. Depois de Paracelso, destacamos Samuel Hahnemann, responsável pelos fundamentos da medicina homeopática, retirando das plantas, o valor terapêutico através da dinamização infinitesimal do seu poder de cura.
No continente Sul-Americano, os Incas desenvolveram sua terapia natural baseada nos conhecimentos das tribos que dominavam com o emprego das plantas psicoativas, buscando estados alterados de consciência que os possibilitava “ver” com a percepção, a causa das doenças e o remédio da natureza para se realizar a cura.
A partir do século XIX começa a haver um declínio da terapia vegetal. Os cientistas passam a reproduzir em laboratórios, apenas os princípios ativos mais importantes das plantas. Descobriram mesmo assim, a penicilina ( do bolor do pão) e a aspirina ( da bétula, gualtéria e ulmária).
Com o advento da II Guerra Mundial e o avanço dos medicamentos sintéticos e da Indústria Farmacêutica, o uso das plantas medicinais foi totalmente esquecido, ficando até a década de 80 a Botânica, separada da Medicina, quando então passa a ser revalorizada pelo seu poder curativo.