CPI deve seguir “rota do dinheiro” em decisões na pandemia

Grandes farmacêuticas prestarão informações sobre a venda dos medicamentos do kit Covid 

Foto: Edilson Rodrigues / Agência Senado

Os requerimentos aprovados no fim da semana passada pela CPI da Covid e o não comparecimento à comissão do governador de Amazonas, Wilson Lima, com aval do Supremo Tribunal Federal (STF), sugerem uma mudança de curso das investigações do colegiado.

Nesta segunda fase, que nos bastidores já é chamada de “segunda temporada”, os senadores devem seguir a rota do dinheiro, conhecida pela expressão em inglês como “follow the money”, para apurar se houve benefício financeiro em decisões tomadas no combate à pandemia, tanto no estímulo ao tratamento precoce com uso de cloroquina e outros medicamentos que fazem parte do “kit Covid”, como nas negociações para a compra da Covaxin, representada no Brasil pela Precisa Medicamentos. Nesta fase, os trabalhos ficarão mais focados em análise de documentos do que em depoentes.

A CPI aprovou pedidos de informações às farmacêuticas EMS, Cristália e Apsen especialmente sobre a comercialização de hidroxicolorquina e ivermectina. Também aprovou a convocação de Renato Spallicci, presidente da Apsen.

A CPI solicitou ainda aos presidentes de dezenas de farmacêuticas informações sobre as vendas de produtos relacionados ao chamado “kit Covid”. Pelos requerimentos aprovados, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que também preside o conselho de ministros da Câmara de Regulação de Medicamentos, o secretário executivo da Câmara, Romilson de Almeida Volotão, e o presidente da Anvisa Antonio Barra Torres, terão que prestar informações sobre vendas de produtos do “kit Covid” nos últimos cinco anos.

O ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, deve fornecer informações sobre a videoconferência realizada na Casa Civil com representantes da indústria farmacêutica. Em outro movimento, a CPI também deve se debruçar na negociação para as compras da Covaxin e, para isso, aprovou a transferência de sigilo telefônico e telemático de Túlio Silveira e de Francisco Emerson Maximiano, ambos da Precisa Medicamentos, representante da Bharat Biotech no Brasil, a indiana que fabrica a Covaxin.

A transferência de sigilo telefônico e telemático dá aos senadores acesso aos registros de conversas telefônicas, conversas por aplicativos de mensagens, históricos de pesquisas na internet e registros de locais visitados por meio de aplicativos de localização, como o Google Maps.

Entre os senadores, já há a avaliação de que a primeira fase, em que depoimentos deixaram claros pontos sobre gabinete paralelo, estímulo ao tratamento precoce, atraso na compra de vacinas e na crise do oxigênio em Manaus, já está encerrada. É esperada para esta segunda-feira uma reunião para ajustar o calendário, que acabou esvaziado em função da decisão desfavorável sobre a presença do governador do Amazonas.

A CPI, que pretendia focar nos depoimentos de governadores nos próximos dias, deve agora se dedicar à análise das novas informações que chegaram a partir dos requerimentos aprovados na semana passada e possivelmente alterar a agenda das presenças na comissão para seguir na nova linha de investigação.