Juiz Marcelo Bretas é acusado de negociar penas e influenciar eleição

Responsável pela Lava Jato no Rio de Janeiro é citado em documento protocolado na PGR

Foto: Fernando Frazão/ABr

O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, responsável por julgar os processos do braço fluminense da Lava Jato, é acusado de irregularidades na condução dos processos da força-tarefa. O advogado criminalista Nythalmar Dias Ferreira Filho, em um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), afirmou que Bretas negociou penas, combinou estratégias e direcionou acordos com o Ministério Público.

As informações foram reveladas pela revista Veja, nesta sexta-feira. Segundo a reportagem, Nythalmar apresentou a PGR um áudio no qual Bretas conta sobre um acordo com o então coordenador da Lava Jato no Rio, Leonardo Cardoso, para aliviar a pena do empresário Fernando Cavendish, ex-dono da Delta Construtora. O intuito do áudio era fazer o advogado convencer o empresário a confessar o crime em troca da redução da pena. Na época, Nythalmar defendia Cavendish.

O juiz Marcelo Bretas reagiu às acusações. “Afirmações falsas. Fatos distorcidos. A reunião referida pelo advogado de defesa (e por ele gravada) foi feita a pedido do próprio advogado e com a participação do representante do MPF, na 7ª Vara Federal Criminal do RJ”, afirmou Bretas sobre as declarações de Ferreira Filho.

O criminalista foi alvo de uma operação da Polícia Federal, em outubro do ano passado, sob suspeita de tráfico de influência, e agora tenta a homologação de um acordo de colaboração premiada com a PGR.

De acordo com a reportagem da Veja, Bretas é apontado como um juiz que negocia penas, orienta advogados, combina estratégias com o Ministério Público, pressiona investigados e direciona acordos de delação.

A matéria cita também que o juiz intermediou um acordo informal com o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, para poupar a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo das investigações de corrupção que atingiram o político.

Outra acusação é a de que Bretas tentou transferir, de São Paulo para o Rio de Janeiro, uma investigação envolvendo o ex-diretor da Dersa, Paulo Vieira de Souza, na esperança de encontrar alguma irregularidade envolvendo o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, crítico declarado dos métodos da Lava Jato.

O advogado relata ainda que o juiz tentou interferir na campanha de 2018 em favor do ex-governador do Rio, Wilson Witzel, destituído após sofrer impeachment, ao vazar o depoimento de um ex-assessor do então adversário Eduardo Paes.

Marcelo Bretas desmontou o maior escândalo de corrupção no Rio: ele foi responsável por condenar Cabral a penas de mais de 300 anos de prisão. Também conduziu o inquérito da Operação Furna da Onça, que colocou deputados da Assembleia Legislativa do Rio no banco dos réus e abriu caminho para a investigação das rachadinhas que atingiu o senador Flávio Bolsonaro.

Em outra frente, homologou a delação do ex-presidente da Fecomércio do Rio, Orlando Diniz, que colocou a Lava Jato no encalço de uma rede de advocacia supostamente ligada a esquema de desvios do Sistema S fluminense.