Autoridades sanitárias de Santa Catarina revelaram estar investigando um caso suspeito de mucormicose, infecção popularmente conhecida como ‘fungo negro’, em um paciente de 52 anos que teve diagnóstico confirmado de Covid-19. Na Índia, a doença provoca uma epidemia em algumas localidades, também em pessoas infectadas pelo coronavírus. A DIVE (Diretoria de Vigilância Epidemiológica) de Santa Catarina informou ter notificado o Ministério da Saúde na última sexta-feira.
“Assim que tomamos conhecimento do caso, seguimos o protocolo e informamos imediatamente ao Ministério da Saúde que emitiu um alerta nacional por meio da rede CIEVS dos estados. Além desse procedimento, continuamos acompanhando e prestando apoio ao município de Joinville na investigação do caso”, disse o Superintendente de Vigilância em Saúde, Eduardo Macário, por meio de nota.
Segundo o órgão, diversos estudos vêm sendo realizados no mundo para verificar a possível relação entre a mucormicose e a Covid-19, especialmente os que envolvem “quadros de comorbidades e situação de imunossupressão”.
A mucormicose é uma infecção causada por vários organismos fúngicos da ordem Mucorales. A contaminação ocorre por meio da inalação de mofo mucoso, normalmente encontrado em plantas, frutas e vegetais em decomposição. A doença não é contagiosa, o que significa que não pode se espalhar pelo contato entre humanos ou animais, mas se espalha a partir de esporos de fungos presentes no ar ou no ambiente, quase impossíveis de evitar.
De acordo com o Manual Merck de Diagnóstico e Tratamento, “a maioria dos sintomas frequentemente resulta de lesões necróticas invasivas no nariz e no palato, acompanhadas de dor, febre, celulite orbitária, proptose e secreção nasal purulenta”. “Podem ocorrer sintomas do sistema nervoso central. Sintomas pulmonares são graves e incluem tosse produtiva, febre alta e dispneia. Infecção disseminada pode ocorrer em pacientes gravemente imunocomprometidos”, ainda segundo o manual.
Indivíduos com diabetes não controlado, especialmente aqueles com cetoacidose, e pessoas que recebem o medicamento desferroxamina desenvolvem mais facilmente a mucormicose.
A forma mais comum da doença é a chamada mucormicose rinocerebral, que também costuma ser mais grave e até fatal. “A extensão progressiva da necrose, que envolve o cérebro, pode causar sinais de trombose do seio cavernoso, convulsões, afasia [alteração da capacidade de se comunicar], ou hemiplegia [perda dos movimentos]”, complementa o Manual Merck.
Dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos indicaram que a mucormicose atinge 54% de taxa de mortalidade, que pode variar dependendo da condição dos pacientes e da parte do corpo afetada.
O tratamento é feito com medicamentos, sendo a anfotericina B em alta dose o mais indicado. O isavuconazol é uma opção, embora a eficácia seja limitada em pacientes mais graves. A remoção cirúrgica do tecido necrosado também deve ser feita.
O fundo negro e a Covid-19
Baixo oxigênio, diabetes, altos níveis de ferro, imunossupressão, juntamente com vários outros fatores, incluindo hospitalização prolongada com ventiladores mecânicos, em razão da Covid-19, criaram um ambiente ideal para contrair mucormicose, escreveram pesquisadores na revista Diabetes & Metabolic Syndrome: Clinical Research & Reviews.
Especialistas relataram à agência Reuters que o uso excessivo de alguns medicamentos necessários no tratamento da Covid-19 pode estar suprimindo o sistema imunológico de determinados pacientes, aumentando o risco da mucormicose.
A possível relação entre a doença e o uso de cilindros de oxigênio causa divergência entre médicos, bem como a limpeza dos ambientes hospitalares.