O novo boletim genômico do coronavírus, publicado nesta quarta-feira pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), aponta para o predomínio da variante P.1 no Rio Grande do Sul. Foram analisadas 516 amostras de 112 municípios gaúchos, sendo que em 91% dos exames o resultado deu positivo para essa linhagem.
Desde a primeira detecção da variante P.1, chamada de cepa amazônica, em janeiro deste ano, esse tipo de mutação do SARS-CoV-2 aumentou em proporção entre as amostras sequenciadas pelos pesquisadores. Todas as 161 amostras coletadas em maio deram resultado para a P.1, assim como 244 das 246 (99%) que foram coletadas em abril.
Esse novo boletim, porém, trouxe uma análise diferente dos anteriores. De acordo com o documento, não foram incluídos nesta edição os resultados de sequenciamentos completos, realizados na Fiocruz no Rio de Janeiro. Por conta da importância em acompanhar a ocorrência dessas variantes, o Centro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CDCT) e o Laboratório Central do Estado (Lacen) implementaram um novo teste que, segundo o grupo técnico, rende resultados mais rápidos e com menor custo.
A análise molecular é baseada no exame de PCR e é capaz de identificar a presença de mutações das principais variantes (P.1, B.1.1.7 e B.1.351). Diferente do sequenciamento genômico, que fornece detalhes do perfil de mutações e classifica com precisão a linhagem de cada amostra, esse teste, feito pela própria Secretaria da Saúde (SES), indica que determinada amostra é uma provável VOC (variante de preocupação, da sigla em inglês).
As amostras apontadas como prováveis P.1 apresentaram resultado para um gene específico (ORF1a, 3675-3677) presente em duas VOCs: P.1 e B.1.351. De acordo com a análise técnica, uma vez que ainda não há identificação da B.1.351 em território gaúcho, pode se inferir que essas amostras são provavelmente pertencentes à linhagem P.1, condizendo com os achados do boletim genômico anterior.
Variantes do coronavírus
Quando uma variante/linhagem do coronavírus carrega mutações importantes, com potencial de alterar o comportamento do invasor no organismo humano, ela passa a ser denominada como “variante de interesse” (VOI – do inglês Variant of Interest). Quando comprovadas essas alterações e identificada uma ameaça à saúde pública ou ao controle do vírus, passa a ser chamada de “variante de preocupação” (VOC – do inglês variants of concern). Variantes de preocupação (VOC) são aquelas para as quais existem evidências científicas de uma mudança no comportamento do vírus.
Os exemplos mais conhecidos e de maior preocupação entre as VOCs já identificadas, até o momento, foram:
• B.1.1.7 (Reino Unido): com maior transmissibilidade, pode escapar dos anticorpos produzidos por algumas vacinas;
• B.1.351 (África do Sul): com maior transmissibilidade, pode afetar a eficácia de diferentes vacinas contra a Covid;
• P.1 (Brasil): com maior transmissibilidade, pode comprometer a resposta imune de indivíduos previamente infectados pelo SARS-CoV-2;
• B.1.617 (Índia), também com maior transmissibilidade mas ainda sem relato de transmissão local no Brasil.