Além da pandemia da Covid-19, outra situação preocupa o Rio Grande do Sul: a infestação do mosquito Aedes aegypti e, consequentemente, o aumento significativo de doenças como a dengue. Até o momento, conforme levantamento da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (SES/RS), o Estado já apresenta o maior numero de casos autóctones (contraídos dentro dos municípios) da última década.
Segundo o último Informativo Epidemiológico da SES/RS, o território gaúcho já contabiliza 5.790 casos de dengue, sendo 5.625 autóctones e 165 importados e, ainda, 669 casos continuam em investigação. Além disso, foram registrados sete óbitos em decorrência da doença e um está em investigação. Do total de casos autóctones, 83,2% estão concentrados em quatro cidades gaúchas: Aratiba, Erechim, Santa Cruz do Sul e Bom Retiro do Sul.
Em relação às características quanto a sexo dos casos autóctones, houve predomínio no sexo feminino (53% dos casos) e, em relação a faixa etária, a de maior número de casos autóctones foi dos 30 a 39 anos (18,1%). Assim como no restante do país, os casos de dengue autóctones registrados no Estado, em 2021, apresentaram sintomatologia clássica, com prevalência de febre, cefaleia (dor de cabeça) e mialgia (dor muscular) na maioria dos casos. Também foram registradas queixas como náuseas, dor nas costas e exantema (irritação na pele).
Ao longo de todo o ano de 2020, foram confirmados 3.229 casos da doença. Ou seja, em menos de seis meses, o aumento no número de casos de dengue no Rio Grande do Sul foi de 79,31%. Segundo a SES/RS, os casos de dengue são notificados em todos os meses do ano, embora haja um aumento durante a sazonalidade da doença que ocorre entre os meses de novembro a maio.
Outro ponto que acende um alerta para o Estado é o número de municípios infestados por Aedes aegypti. Em uma série histórica de 2000 até 2021, conforme o informativo da SES/RS, o Rio Grande do Sul registrou crescimento de 83,3% no número de municípios infestados pelo mosquito. No ano 2000 eram 14 municípios, em 2010 esse total subiu para 62 e, agora em 2021, já são 414 cidades com registro de infestação do Aedes aegypti.
De acordo com a chefe da Divisão de Vigilância Ambiental do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), Aline Campos, a expectativa é de que nos próximos meses a incidência da doença diminua um pouco, principalmente por conta das temperaturas mais baixas, o que reduz a atividade do mosquito. “Foi uma conjunção de fatores, a dengue é multifatorial e está ligada ao lado social, onde há mais depósitos, há mais mosquito”, explicou.
Conforme Campos, o quadro da pandemia também influenciou na infestação e no aumento do número de casos. “Os municípios tiveram que diminuir o trabalho que é feito pelos agentes de combate a endemia, eles não fizeram visitas e se limitaram a trabalhar do lado de fora das casas e orientando as pessoas”, detalhou.
Além da dengue, Campos reforçou ainda o avanço importante de doenças como a Febre Amarela e as outras provocadas pelo mosquito Aedes aegypti como Chikungunya e Zika Vírus. “Isso demonstra que o clima esse ano está favorável para vetores, mais do que nunca a gente está precisando da participação social, o engajamento da nossa população é essencial”, pontuou. Sobre a Febre Amarela, Campos ainda ressaltou que desde 2018, todo o Rio Grande do Sul é área com recomendação para vacinação da Febre Amarela. A vacina contra a Febre Amarela faz parte do calendário do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e pode ser encontrada nas Unidades de Saúde da Atenção Primária.
A recomendação geral para a população é que seja feita limpeza constante dos pátios das residências e dos pratinhos das plantas, bem como dos potes de água para animais. Campos também indicou que as pessoas façam uso de repelente, uso de tela e que não deixem a casa aberta nas horas de maior atividade dos mosquitos: ao entardecer e ao nascer do dia.
Porto Alegre
O número de casos confirmados da dengue entre moradores de Porto Alegre, em 2021, já é maior do que o total de 2020. Conforme o último boletim epidemiológico da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), em 2020 foram confirmados 39 casos na Capital e, até o momento, já são 47 confirmações em 2021. O crescimento entre os casos autóctnoes (contraídos dentro do município) é mais preocupante: foram sete em todo o ano de 2020 e em 2021, em menos de seis meses, já são 40. O que representa um aumento de 471,42%.
Os bairros mais afetados, segundo a SMS por local provável de infecção, são: Santo Antônio (15 casos), Humaitá (14 casos), e Lomba do Pinheiro (7 casos). Os dados fazem parte do boletim elaborado pela Equipe de Vigilância de Doenças Transmissíveis da SMS. Por conta da situação, agentes de combate a endemias da SMS realizaram vistoria no Parque Farroupilha (Redenção) na última semana, com o objetivo de identificar e eliminar criadouros de mosquitos Aedes aegypti.
As equipes encontraram criadouros do mosquito Aedes aegypti no Espelho D’Água, em locais com acúmulo de resíduos e no entorno das instalações administrativas do parque. Segundo a diretora adjunta de Vigilância em Saúde da SMS, Fernanda Fernandes, os dias quentes favorecem a proliferação do mosquito e, por isso, o maior número de casos se concentra especialmente no verão e no outono.
“Os surtos que estão ocorrendo em Porto Alegre, nas regiões que verificamos e fizemos o controle, são pontos de extrema desigualdade, locais onde as pessoas trabalham com lixo reciclável e que favorecem o acúmulo de água, além de outras regiões com mata”, detalhou. Conforme Fernandes, é possível observar que há relação da ocorrência da dengue com a questão de estrutura como saneamento e acúmulo de resíduos. “Infelizmente não temos conseguido resolver essa questão ao longo dos anos, então temos de forma recorrente surtos dessa doença”, frisou.