Homens e idosos são as principais vítimas de casos graves e mortes pela covid-19, segundo estudo que avaliou 178 mil pacientes no Brasil, sendo 33 mil com diagnóstico confirmado para a doença. Essa é a primeira vez que as constatações são apresentadas de maneira sistematizada, com análise de parâmetros laboratoriais de amostras de uma grande quantidade de pessoas em uma única pesquisa.
Os resultados do estudo, liderado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP), Helder Nakaya, e com a participação do pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Bruno Bezerril, foram descritos em artigo publicado no International Journal of Infectious Diseases. Além deles, a pesquisa também contou com especialistas de diversas instituições nacionais e de fora do país.
Os resultados do estudo foram divulgados nesta segunda-feira na página da Fiocruz. Os cientistas estabeleceram um perfil laboratorial dos pacientes, com a contagem completa de células sanguíneas, eletrólitos, metabólitos, gases no sangue arterial, enzimas, hormônios e biomarcadores de câncer, por exemplo.
Os resultados revelaram que pacientes idosos do sexo masculino tiveram valores laboratoriais significativamente anormais, incluindo marcadores inflamatórios mais elevados, em comparação com mulheres da mesma faixa etária. Biomarcadores de inflamação, como a proteína C reativa e ferritina, eram mais altos especialmente em homens mais velhos, enquanto outros marcadores, como testes de função hepática anormais, eram comuns em várias faixas etárias, exceto para mulheres jovens.
O estudo mostra, por exemplo, que pacientes com Covid-19 podem apresentar complicações diferentes, como deterioração do fígado ou dos rins, inflamação sistêmica e coagulopatias, que podem ter resultados diferentes, na comparação entre homens e mulheres. “Enquanto 50,4% dos paciente homens com Covid-19 mostraram evidência de coagulopatia, somente 39,7% das pacientes mulheres tiveram essas anormalidades. Quando somente pacientes em CTI foram considerados, os números aumentaram para 91,3% (em homens) e 82,8% (em mulheres)”, aponta o estudo.
Segundo os autores da pesquisa, por ser uma infecção multissistêmica, os pacientes com a forma grave da Covid-19 sofrem um processo chamado “tempestade de citocinas”, que é um indicativo de descontrole da inflamação. Isso acontece quando o corpo perde a capacidade de parar esse processo de combate à doença, desencadeando problemas gravíssimos ao organismo.
Uma hipótese levantada pelo estudo é de que pacientes mais idosos e do sexo masculino tenham tendência a ter um descontrole maior da inflamação por conta dessa tempestade. Homens e mulheres apresentaram alterações no sistema de coagulação e níveis mais elevados de neutrófilos, proteína C reativa e lactato desidrogenase, por exemplo. Essas alterações foram substancialmente afetadas com o aumento da idade, e o impacto da idade se mostrou mais relevante em homens do que em mulheres.