Diz que o Elautério foi passar uns dias na campanha, pra fora , como se diz no interior e o calor era “urco”, tipo uns 40°, de rebentar a pessegada de tão caliente, um baita convite “prumas” cervejadas das buenas e muito banho de rio. O fim de semana foi um tendéu de cerveja até acabar o estoque. Daí baixou um miudinha e um desânimo na cuerada, de dar dó. Foi aí que se ouviu:
-O Custódio!
Todos os pescoços se viraram pra a estrada, os guaipecas acuaram e foi um ahhhhh geral !
– O Custódio tem cerveja gelada! – completou o Ernesto, levantando a moral da tropa.
Foi uma alegria danada. Salva a pátria e o finzinho do domingo. Imediatamente foi organizada uma expedição, sendo nomeados democraticamente dois voluntários para enfrentar o pó e o calor “em busca da cerveja perdida”!
E lá se foram o Bigode e o Maragato numa fusqueta “ Fafá de Belém”, daquelas com quatro enormes lanternas e um enorme para-lamas… Lá por perto da porteira do Perseverando, o Bigode pergunta ao parceiro rompendo o silêncio:
-Vertical ou horizontal?
Entre sonolento e distraído o Maragato contestou: Hâ?
-Estou falando do freezer do Custódio.
-Não me lembro, respondeu o parceiro –entre fingido e distraído.
Chegando ao Bolicho, entraram por um galpão onde havia ao lado de uma carreta aposentada- uma mesa de sinuca. Um gato dormitava no centro da mesa, enquanto uma “choca” fazia de ninho a caçapa do fundo.
O Custódio recebeu os dois gaudérios aboletado numa espreguiçadeira, coçando as frieiras dos dedos do pé e fumando um palheiro fedorento. Ao tomar ciência do desejo dos sedentos, apontou para um engradado empoeirado e indagou:
– Vocês querem morna ou gelada?
– Gelada, geladíssima, exclamou o Bigode, um tanto ansioso.
O Custódio levantou-se, preguiçosamente, derrubando sobras do almoço que haviam se escondido nas dobras da barriga e dirigiu-se ao alpendre. E os dois amigos atrás. Chegou ao poço, puxou umas doze braças de corda e … ali estava! Um balde com seis “berejas” afogadas até o pescoço!!!
O Bigode, índio fino, carioca de nascença e gaúcho por vocação, acostumado a beber cervejas nos melhores restaurantes e bares da Capital, jamais esqueceu das “geladas” do Custódio!!!!
Este causo me fez lembrar dos meus tempos de guria em Bagé quando íamos acampar à beira do Rio Negro para pescar traíras e colocávamos as “berejas” pra gelar numa cacimba ali perto. Me deu um “coraçonaço” de tanta saudade desses velhos tempos…