Crianças têm mais chance de pegar Covid-19 do que de transmitir, aponta Fiocruz

Estudo sugere que reabertura de escolas é segura com imunização de profissionais da educação

Foto: Anselmo Cunha/PMPA

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aceito para publicação na importante revista médica Pediatric, mostra que as crianças têm mais chance de pegar a Covid-19 do que de transmitir a doença para pessoas acima dos 18 anos. O ensaio sugere que a reabertura de escolas e creches é segura, a partir da imunização dos profissionais da saúde e de medidas de prevenção para a transmissão do SARS-CoV-2.

A Fundação, em parceria com a Universidade da Califórnia e a Escola de Medicina Tropical e Higiene de Londres, pesquisou 259 famílias da comunidade de Manguinhos, no Rio de Janeiro, sendo 323 crianças (0 a 13 anos), 54 adolescentes (14 a 19 anos) e 290 adultos. Os voluntários foram monitorados de maio a setembro de 2020.

14 crianças (13,9%) apresentaram o teste PCR positivo. 25% dos infectados tinham menos de um ano e 21% era da faixa etária de 11 a 13 anos. O ensaio detectou que todas as crianças doentes tinham um adulto ou contato domiciliar adolescente com suspeita ou confirmação de SARS-CoV-2 antes do diagnóstico na criança.

Os resultados são compatíveis com a teoria de que os pequenos foram infectados após ou ao mesmo tempo que o adulto, principalmente quando a pessoa infectada era é o pai ou a mãe. No começo da pandemia, em 2020, acreditava-se que as crianças poderiam ser as grandes transmissores da doença, já que no caso da gripe e de outras doenças respiratórias elas são as responsáveis por espalhar as infecções.

A pesquisa ainda ressalta a importância de incluir crianças na campanha de vacinação. Já que, se os adultos foram imunizados e os mais novos não, eles podem continuar a manter a circulação da doença. A tese leva em conta a diferença entre as estratégias de vacinação para proteção individual e as estratégias para alcançar a imunidade do rebanho.

Se no mínimo 85% de indivíduos precisam ser imunizados para conter a pandemia, este nível de proteção só pode ser alcançado com a inclusão de crianças nos programas de imunização, principalmente no Brasil, onde 25% da população tem menos de 18 anos.