Covid-19: mortes de idosos com 80 anos ou mais atingem menor proporção após início da vacinação

Estudo da Ufpel mostra que grupo representa atualmente 13% do total de óbitos no país, metade do registrado em 2020

Foto: Guilherme Almeida/CP

O número de mortes de pessoas com 80 anos ou mais reduziu consideravelmente desde o início da vacinação no Brasil. Um estudo liderado pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), publicado nesta sexta-feira, mostrou que os óbitos de idosos pela Covid-19, que eram 28% do total em janeiro, passaram a 13% em abril, registrando o menor percentual para o grupo etário desde o início da pandemia. Em 2020, esse patamar era de 25% a 30%.

“Estudos vêm demonstrando a associação entre vacinação e declínio no número de hospitalizações e mortes em populações como a de Israel, por exemplo. No entanto, até agora, nenhum dos estudos populacionais sobre mortalidade havia sido realizado em um cenário de predominância da variante P.1, como é o caso do Brasil”, explica o epidemiologista e líder do estudo Cesar Victora.

Para as análises, os pesquisadores utilizaram dados sobre mortes pela Covid-19 e cobertura vacinal contra o coronavírus registrada pelo Ministério da Saúde no intervalo de 3 de janeiro a 22 de abril. Nesse período, o país registrou 171.454 mortes pelo coronavírus.

O número de óbitos em todas as idades aumentou a partir do fim de fevereiro em decorrência da rápida disseminação da variante P.1 em todo o país. No início de março, a nova cepa, identificada pela primeira vez em dezembro no estado do Amazonas, já respondia por mais da metade dos casos de infecção em oito dos dez estados brasileiros com dados disponíveis sobre sequenciamento genômico do vírus.

Os pesquisadores sugerem que a redução observada corresponda à prevenção de aproximadamente 14 mil (13.824) mortes de pessoas de 80 anos ou mais durante o intervalo de oito semanas entre meados de fevereiro e abril.

De acordo com o estudo, os atuais resultados de queda na mortalidade a partir de fevereiro são compatíveis com um efeito protetor da primeira dose das vacinas, que é ainda mais alto a partir da segunda dose.

A vacina CoronaVac representa mais de três em cada quatro doses de imunizantes administrados no Brasil, sendo a vacina Oxford/AstraZeneca responsável pela quase totalidade do restante. Os dados existentes não permitem estudar o impacto de cada tipo de vacina separadamente.

Uma outra conclusão apresentada pelo estudo da Ufpel é que os atuais resultados sugerem proteção pelas vacinas mesmo em um cenário onde a variante P.1 predomina. Isso reforça os resultados de pesquisas realizadas em Manaus e São Paulo entre profissionais de saúde vacinados nos primeiros meses de 2021, que evidenciaram proteção também a partir da primeira dose em populações afetadas pela variante.

“Uma vez que medidas não farmacológicas, como distanciamento social e uso de máscara, não estão sendo uniformemente aplicadas na maior parte do país, o rápido progresso da vacinação continua sendo a abordagem mais promissora para controlar a pandemia em um país onde quase 400 mil vidas já foram perdidas para a Covid-19”, finaliza o pesquisador.