Em 36 dias, Brasil registra média de 116 mortes por Covid a cada hora

Nesse período, total de óbitos subiu de 300 mil para 400 mil

Foto: Mauro Schaefer/CP

Há exatos 36 dias o Brasil rompia a marca de 300 mil óbitos pela Covid-19, 76 dias após ter registrado 200 mil. Nesta quinta-feira, foram contabilizados mais de 400 mil óbitos, uma média de 116 por hora desde o dia 24 de março.

Um dos motivos para o aceleramento da pandemia no país é a disseminação da variante P.1, identificada em Manaus (AM). “A variante amazônica explica parte dessa velocidade apresentada nos últimos meses porque ela é mais transmissível — infecta mais gente e, infelizmente, há evidência de que ela é mais agressiva”, explica o epidemiologista Pedro Hallal, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

“O que não gosto é quando as pessoas dão a entender que é só a variante que causou todos esses danos. Tem também todo o descontrole da pandemia, pelo abandono completo das medidas de restrição de circulação do vírus, que foi observado no Brasil de novembro até fevereiro”, pondera.

O médico Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), aponta também “um país cansado de distanciamento social”, algo que, na avaliação dele levou a uma baixa adesão às medidas estipuladas pelo poder público.

O médico sanitarista e ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anisa) Gonzalo Vecina Neto adverte que o leve arrefecimento dos números de novos casos, internações e óbitos levou a um relaxamento das medidas necessárias para frear o contágio. “Daqui a 14 dias vamos ter outro crescimento do número de casos e mortes. Estou vendo como as pessoas estão se comportando desde domingo passado”, lamenta.

Kfouri também entende que pode haver “algum repique” diante das flexibilizações feitas pelos Estados, que ele considera precoces. “No primeiro sinal de estabilização, de queda de leitos de ocupação, já se liberou academia, na semana seguinte, restaurantes. Os parques já estão cheios, praias cheias.”

Ele explica que, embora estejam em declínio, as médias móveis de novos casos (cerca de 57 mil por dia) e óbitos (cerca de 2.400 por dia) permanecem em patamares muito acima do ideal. “Não estou dizendo que é fácil, mas se tivéssemos conseguido manter mais uma ou duas semanas tudo mais fechado, acho que conseguiríamos chegar a uma média em níveis mais baixos”, afirma Kfouri.

Hallal também revela preocupação. “Isso já aconteceu no ano passado. O Brasil subiu devagar, comparado com outros países, e estabilizou em 1.000 mortos por dia. Estou com medo agora que a estabilização seja na casa dos 2.000. O certo agora é tomar medidas para reduzir essa média, e não para estabilizar.”

O sinal de alerta do epidemiologista é dado porque as regiões mais populosas do país entrarão no inverno daqui a menos de dois meses. Foi justamente neste período do ano passado que o país teve os maiores picos de casos e mortes.

“As regiões Sul e Sudeste podem apresentar a incidência do novo coronavírus com a de outras doenças [respiratórias], e isso gerar um agravamento do quadro”, alerta.

A progressão da campanha de vacinação para outros grupos além dos idosos também vai definir como a pandemia se comporta no Brasil nos próximos meses.

O Ministério da Saúde estima distribuir 34,4 milhões de doses de vacinas no mês de maio, iniciando a imunização de pessoas abaixo de 60 anos com doenças que podem agravar a Covid-19. Esse é o maior grupo prioritário, com aproximadamente 17 milhões de pessoas.