“Não adianta mudar discurso sem mudar prática”, declara ex-ministro do Meio Ambiente

Para Sarney Filho, esforço do governo de assumir uma postura que nunca teve e não pratica é "patético"

Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil

O discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Cúpula dos Líderes do Clima, nesta quinta-feira, não vai ser suficiente para convencer os países desenvolvidos a liberar recursos para o Brasil enquanto não houver uma mudança de prática na gestão ambiental. A avaliação é de Sarney Filho, secretário de meio ambiente do DF, e ministro do meio ambiente por duas vezes, nas gestões FHC e Temer.

Bolsonaro confirmou hoje aos líderes mundiais o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030 e reduzir as emissões de carbono. Sarney Filho avaliou como “patético” o esforço do governo em “assumir uma postura que nunca teve”.  Segundo ele, essa estratégia de mudança de discurso não vai ter sucesso.

“É triste ver um discurso que fala em construção que deu certo, da política ambiental ao longos dos anos, sendo que desde que o governo assumiu começou a desconstrução disso. Isso nos deixa com muita preocupação e mostra a irresponsabilidade do governo atual”, declarou.

Apesar de reconhecer como positiva a mudança do discurso de Bolsonaro, Sarney Filho reitera que não adianta falar sem apresentar resultado concreto. “É sempre bom ouvir o compromisso do governo mas eu não acredito porque as ações do governo vão contra o compromisso”.

Para o ex-ministro, o maior erro ambiental do governo Bolsonaro é a desconstrução dos órgãos ambientais, como a retirada de prerrogativa dos fiscais do Ibama. “Você dá uma ideia de tudo liberado”. Ele lembra ainda que o Ibama é uma conquista do País após a redemocratização, “construída duramente”.

“Há contradição entre discurso e prática. O principal erro do governo Bolsonaro é o desmonte das estruturas de fiscalização, e o agronegócio é o que mais vai ser prejudicado, o setor que ele mais tenta bajular. Além da mudança climática, o desmonte prejudica os exportadores porque, os países compradores estão cada vez mais exigentes”, completa.