Na véspera da Cúpula de Líderes sobre o Clima, o Brasil enfrenta protestos contra o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles na internet, pressão de ONGs e de artistas para que os EUA não repassem recursos ao Brasil e ainda convive com uma coincidência de datas: a reunião ministerial em que o ministro Ricardo Salles falou em “passar a boiada” aconteceu em 22 de abril de 2020.
Apesar das pressões, nesta quarta-feira, feriado nacional, Bolsonaro participou de um churrasco com Salles e vários ministros na casa do titular das Comunicações, Fábio Faria. Em clima descontraído, eles comeram costela. Faria chegou a postar foto de encontro com a hashtag #ficasalles, em uma forte sinalização de que o governo não pretende ceder às pressões pela saída dele.
Um ano depois da polêmica reunião ministerial de 22 de abril, o Brasil se vê pressionado por uma cúpula que vai abordar as questões climáticas em função da vitória de Joe Biden. O democrata defende uma visão de meio ambiente bem diferente da do republicano Donald Trump, e a quer colocar no centro da agenda internacional. A reunião entre os 40 líderes mundiais vai ser o primeiro encontro, mesmo que virtual, entre Bolsonaro e Biden.
A pressão em torno da cúpula não vem apenas do entorno: internet, ONGs e artistas, entre eles Leonardo DiCaprio e Sonia Braga, que assinaram uma carta pedindo que Biden não assine acordo com o Brasil até que o País reduza o desmatamento.
O próprio governo americano vem aumentando o grau de pressão para que o Brasil adote metas ambientais e de redução do desmatamento mais ambiciosas condicionando o repasse de recursos à apresentação de resultados, e não apenas a promessas para o futuro.
Publicamente, o ministro Salles disse esperar pagamentos antecipados de US$ 1 bilhão para que o Brasil se comprometa a reduzir entre 30% e 40% o desmatamento na Amazônia nos próximos 12 meses. Quanto à carta dos artistas, disse em redes sociais que eles agem apenas por política e que querem “melar qualquer acordo sobre Amazônia”.
O cabo de guerra nas negociações, com o Brasil pedindo recursos de um lado e os EUA exigindo resultados antecipados do outro, fica ainda mais acirrado no contexto da pandemia. O Brasil sofre com falta de vacinas e de recursos para fechar o Orçamento, que deve ser sancionado também nesta quinta-feira. Ou seja, vai ter de entrar em um acordo com muito boa vontade para ter apoio internacional, também, no combate à pandemia.