Porto Alegre pretende vacinar grávidas com comorbidades dentro de duas semanas

Imunização de grupo não é aconselhada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que aponta falta de testes conclusivos de eficácia

Foto: Guilherme Almeida/CP

Após observar casos graves de Covid-19 entre gestantes e mulheres que recém deram à luz, o Ministério da Saúde passou a recomendar que as grávidas que tenham doenças prévias recebam a vacinação contra o vírus. A indicação é uma mudança em relação a diretrizes anteriores da pasta, que não tinha essa posição até 15 de março.

Nessa segunda-feira, a Secretaria de Saúde de Porto Alegre informou que em duas semanas vai iniciar a vacinação deste grupo. A medida atende um pleito do vereador José Freitas (Republicanos), que expressou preocupação com o fato de essas mulheres ainda não constarem no plano de vacinação local.

Segundo dados do Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19, uma média de 10,5 gestantes e puérperas morreram por semana em 2020, chegando a um total de 453 mortes, em 43 semanas epidemiológicas, no ano passado. Já em 2021, a média de óbitos por semana chegou, até 10 de abril, a 25,8 neste grupo, totalizando 362 óbitos neste ano durante 14 semanas.

Na semana passada, o vereador encaminhou indicação ao Poder Executivo solicitando a inclusão de gestantes em gravidez de alto risco no plano de vacinação em Porto Alegre.

“O governo federal já recomendou e vai disponibilizar recursos aos estados e municípios que abrirem para este grupo. E esta indicação, com base nestes dados, é necessária para ampliarmos a proteção deste grupo”, sustenta o parlamentar.

OMS não aconselha vacinação do grupo

Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) desaconselha que grávidas sejam imunizadas com as dose da Pfizer/BioNTech e Moderna. A entidade também adverte que as vacinas em uso no Brasil não foram avaliadas nos grupos de gestantes, puérperas e lactantes.

Mas o médico obstetra José Geraldo Lopes Ramos, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs), considera que apesar da falta de testes específicos, “são vacinas com tecnologias que já foram utilizadas em outras doenças”.

Ele observa, ainda, que nos Estados Unidos, a vacinação em massa acabou imunizando, inadvertidamente, mulheres grávidas. “A Pfizer está acompanhando estas pacientes que não sabiam estar grávidas quando se vacinaram e não há relatos de problemas”, observa.

Ramos defende que as grávidas tomem a vacina. “Em princípio, elas podem e devem ser utilizadas pelas gestantes. Porque é um grupo de risco, com mais internações em relações a outros grupos. Ainda mais se tiverem outros riscos, como obesidade e diabetes”, justifica.

Mesmo em relação às vacinas em uso no Brasil, a apreensão em torno da Astrazeneca/Oxford não deve ser empecilho para vacinação. “O risco de trombose causado pela vacina é pouco frequente. Mas a gravidez e a Covid-19 também fazem aumentar o risco de trombose. Aos que defendem o uso deste imunizante, há uma questão de risco x benefício, em que o benefício em tomar a vacina é maior do que pegar a Covid durante a gravidez. Mas não existe um consenso. Melhor é conversar com seu pré-natalista antes”, recomenda.