Laudos produzidos pela área técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) identificaram “pontos críticos” referentes à demonstração de eficácia e segurança da vacina russa Sputnik V nos documentos anexados ao pedido de importação, feito pelo governo do Maranhão, para uso emergencial do imunizante.
Nos documentos, enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF) e acessados pela Agência Reuters, há uma lista extensa de informações a respeito da vacina que a Anvisa relata ter tido acesso para realizar a análise da Sputnik V.
A área técnica da agência considera que não há dados suficientes para fazer uma “análise de benefício-risco positiva sobre a vacina”.
“Pela análise prévia da documentação técnica, foram identificados pontos críticos tanto relacionados à qualidade quanto à demonstração de eficácia e segurança da vacina”, sustenta a Anvisa no laudo técnico.
A documentação consta de ação relatada pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski, que na terça-feira atendeu um pedido de liminar para determinar que a agência decida em até 30 dias sobre uma autorização excepcional para importação da Sputnik V pelo governo maranhense.
Em meio à escassez de vacinas e ao agravamento da pandemia no país, a gestão estadual pediu aval para importar 4,5 milhões de doses da Sputink V, mas governadores fazem pressão para que se liberem pelo menos 37 milhões de doses da vacina.
Procurados, os responsáveis pela Sputnik V no Brasil não responderam de imediato a um pedido de comentário sobre os laudos técnicos da Anvisa.
Sigilo negado
Na ação, a Anvisa apresentou um pedido para manter os documentos sob sigilo, e argumentou que os documentos técnicos são “bastante sensíveis” e podem causar prejuízo à avaliação e decisão final do órgão.
“Se estas informações chegarem ao conhecimento do público em geral antes da análise definitiva da agência, isso poderá gerar uma desconfiança desnecessária sobre a efetiva imunização advinda da Sputnik V, causando, possivelmente, uma diminuição no quantitativo populacional que irá recorrer aos postos para se vacinar”, argumentou a agência.
Lewandowski rejeitou o pedido de decretação de sigilo e destacou “presente o interesse público a justificar a divulgação de tudo aquilo que neles se contém”.