O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar as medidas de distanciamento social adotadas por governadores e prefeitos para conter a pandemia e os culpou pela atual crise socioeconômica que o país passa. Segundo o presidente, o Brasil está na iminência de um “problema sério” e ele só aguarda uma “sinalização” do povo para agir, sem detalhar o teor da sua fala.
“O Brasil está no limite. O pessoal fala que eu tenho que tomar providência. Estou aguardando o povo dar uma sinalização. Porque a fome, a miséria e o desemprego estão aí. Só não vê quem não quer. Ou quem está na rua. Eu sempre estive na rua. Nas últimas saídas minhas, eu fui em várias comunidades aqui em Brasília”, afirmou o presidente.
Ao comentar notícia do jornal Correio Braziliense, que traz na manchete “Brasil tem 125 milhões de pessoas que não sabem se vão se alimentar bem”, Bolsonaro se eximiu de responsabilidade pelas consequências econômicas da pandemia.
“O que eu falei em março do ano passado? Aquela política do ‘fica em casa e a economia a gente vê depois’. Estão vendo. Quero saber se a imprensa vai culpar os verdadeiros responsáveis ou vai continuar apoiando a política do lockdown”, disse.
Bolsonaro contou ter conversado com o presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), o qual o informou que produtores de tomate estavam deixando de produzir e descartando o produto, pois “não tem mais restaurante aberto”.
“[…] Quando voltar, quando abrir vão ter que plantar de novo e tem gente que acha que é assim (estalo de dedos), tomate aparece na prateleira. Tem que plantar de novo. Vai ter escassez e o que acontece na escassez? O preço sobe, a inflação”, afirmou.
Acusações de genocídio
Envolvido em mais uma crise institucional ao pedir o impeachment de membros do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente reclamou, sem citar nomes, que um ministro da corte despachou um processo no qual ele é acusado de praticar genocídio.
“Esse pessoal, amigos do Supremo Tribunal Federal, daqui a pouco vamos ter uma crise enorme aqui. Eu vi que um ministro despachou um processo para me julgar por genocídio. Olha, quem fechou tudo, que está com a política nas mãos não sou eu. Agora, eu não quero aqui brigar com ninguém. Mas estamos na iminência de ter um problema sério no Brasil”, afirmou Bolsonaro.
“O que que vai nascer disso tudo? Onde vamos chegar? Parece que é um barril de pólvora que tá aí. E tem gente de palitó e gravata que não quer enxergar isso aí. Acha que a vida é o serviço dele, em casa ou home office. Tempo curtinho, paletó e gravata, dinheiro na conta no fim do mês e o povo que se exploda. Eu não estou ameaçando ninguém. Estou achando que brevemente vamos ter um problema sério no Brasil. Dá tempo de mudar ainda. É só parar de usar menos a caneta e um pouco mais o coração”, concluiu.
O presidente se referiu à queixa-crime na qual é acusado de praticar crime de genocídio contra indígenas durante a pandemia. A ministra Carmen Lúcia pediu ao presidente do STF, Luiz Fux, agendar o julgamento que vai decidir se a Procuradoria Geral da República (PGR) deve ou não abrir investigação sobre a conduta do presidente em relação aos povos indígenas.
O impetrante afirmou que o presidente vetou trecho de lei que previa assistência, com fornecimento de água e insumos médicos, em aldeias durante a crise sanitária.