Enquanto o Ministério da Saúde garante ter distribuído, a estados e municípios, desde 18 de janeiro, mais de 43 milhões de doses de vacinas contra Covid-19, somente cerca de 18,9 milhões foram aplicadas na população. O Vacinômetro do R7 mostra que, até esta sexta-feira, 15,7 milhões de pessoas receberam pelo menos a primeira dose da vacina. Dessas, 3,2 milhões já tomaram a segunda. O governo sustenta que o quantitativo distribuído é suficiente para imunizar 24,4 milhões de brasileiros, número ainda muito acima do observado hoje.
Nessa quinta-feira, o Brasil atingiu a marca de 1 milhão de pessoas vacinadas contra Covid-19 em um único dia, patamar que é possível de ser mantido, segundo especialistas, pela expertise do SUS em programas de imunização. O próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prometeu vacinar 1 milhão de pessoas por dia na primeira entrevista após a posse, embora não tenha explicado como. A diferença entre doses já aplicadas e as distribuídas é de 20,7 milhões.
Reserva de doses
O presidente do Fórum de Governadores, Wellington Dias (PT-PI), atribuiu a discrepância ao fato de muitos estados e municípios estarem reservando a segunda dose, além de haver estoques de segurança. A decisão dos governadores de estocar doses vai contra uma autorização do Ministério da Saúde para que todo o quantitativo disponível seja usado.
A pasta entende que já há um horizonte de segurança em relação às próximas entregas do Instituto Butantan e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). A vacina Oxford/AstraZeneca, produzida pela Fiocruz, permite que todo o estoque disponível seja utilizado, já que a dose de reforço é aplicada 12 semanas depois.
Demora para contabilizar
A médica Mônica Levi, presidente da Comissão de Revisão de Calendários Vacinais da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), explica que pode estar havendo atraso no registro de pessoas vacinadas pela especificidade de cada local.
“Tem municípios que são altamente informatizados, na hora que aplica passa um código de barras e já entra automaticamente no sistema. Tem outros que fazem isso depois, pega um dia ou dois e alguém vai passando para o sistema. Mas tem registros que são manuais, não tem nem internet”, compara.
Perdas de doses
A representante da SBIm também pontua outra causa que pode estar relacionada à diferença entre doses distribuídas e aplicadas: as perdas de imunizantes.
Mônica relata que em torno de 5% do total de vacinas distribuídas são perdidos, seja por extravio, problemas no transporte, armazenamento ou até mesmo na hora de extrair do frasco, que é multidose.
Números que não batem
A própria plataforma LocalizaSUS, do Ministério da Saúde, mostra números diferentes dos que foram informados pela pasta em comunicado à imprensa ontem.
Segundo a nota, foram enviados 43 milhões de doses às unidades da federação, das quais “mais de 18,5 milhões já foram aplicadas”, enquanto a plataforma mostra 41,1 milhões de doses distribuídas e 20,4 milhões de doses aplicadas até o momento.
Um número ainda mais divergente havia sido mostrado por Wellington Dias na quinta-feira. Segundo ele, chegaram aos estados 34 milhões de vacinas, sendo que 16,9 milhões foram aplicadas na primeira dose e 5,2 milhões, na segunda, o que indica em torno de 11,7 milhões de pessoas.