RS enfrenta escassez de insumos no combate à Covid-19

Falta de medicamentos que compõem os kits intubação impossibilitam abertura de novos leitos no Estado

Foto: Alina Souza / CP

Em janeiro, o colapso na saúde do Amazonas, principalmente, na capital Manaus, assustou o país e preocupou pela possibilidade de o problema se estender a outros estados. O Rio Grande do Sul, que chegou a trazer pacientes do Norte, atualmente passa pela pior crise da pandemia, a ponto de receber um dos hospitais de campanha que estavam instalados justamente naquela cidade. Além da má gestão de oxigênio que pode ter acarretado na morte de seis pessoas em Campo Bom, os gaúchos enfrentam outra escassez, a de medicamentos que contribuem no combate à Covid-19.

Segundo a Federação das Santas Casas, Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos do Rio Grande do Sul alerta que novos leitos não podem ser abertos no Estado por falta de insumos que constam nos kits intubação nas UTIs deste tipo de estabelecimentos de saúde, que representam 70% das vagas. “Temos fôlego para mais três ou quatro dias”, frisou o diretor da entidade José Clóvis Soares. Um dos entraves é o preço dos medicamentos, que aumentaram bruscamente com o aumento da demanda. “A ampola do rocurônio (relaxante muscular, também utilizado em cirurgias) custava R$ 12,58. Chegamos a encontrar por R$ 33, mas já houve fornecedores que cobraram R$ 300!”, revelou Soares, também diretor do Hospital Divina Providência.

A Federação estuda novos protocolos que possam encontrar produtos que possam substituir os comumente utilizados. “A maioria dos hospitais têm conseguido encontrar caminhos. Estamos na busca de alternativas como, por exemplo, importação. Já procuramos os governos estadual e federal”, conta Soares. Nesta semana, a pedido da entidade, um encontro virtual reuniu o governador Eduardo Leite, a secretária estadual da Saúde Arita Bergmann, representantes de hospitais e de fornecedores de insumos, que alegam não conseguir atender a demanda e a velocidade necessária. Solicitaram aos hospitais, então, que façam uma programação de entrega. A secretária Arita, reiterou aos vendedores que, na medida do possível, façam uma entrega antecipada desses produtos.

Enquanto isso, os hospitais do interior do RS sofrem com o cenário atual. O Hospital de Caridade Frei Clemente, em Soledade, precisou adaptar um setor do local para atender pacientes Covid. Além da preocupação com escassez de profissionais, a instituição vem encontrando produtos com aumento superior a 400%. Além disso, o presidente Carlos Alberto Rocha chama atenção para o grande consumo de oxigênio. “Estávamos contabilizando que em 24 horas, o hospital gastou o equivalente a 100 cilindros. Por isso, já estamos em fase avançada de projeto para instalação de uma usina de oxigênio no Frei Clemente, para nos tornar autossuficientes”, finaliza. O município fechou a semana com 11 mortes pela doença, mais de uma vida perdida por dia.

Além do rocurônio, midazolam, atracúrio e propofol estão entre os medicamentos que ficaram mais caros entres os meses de março de 2020 e o de 2021. José Clóvis Soares lamenta com emoção a pandemia que ele considera ter causado a pior crise hospitalar da história. “Em 30 anos de serviço nunca tinha visto isso. Nos deixa angustiados e à flor das pele. Nós, profissionais da saúde, estamos fazendo o máximo. Mas muitas pessoas não estão conseguindo sobreviver”, desabafa. A incapacidade de derrubar a curva de contaminações e a possibilidade de banalização das mortes inconformam o diretor. “Só quem está na linha de frente pode sentir o que sinto agora. Não podemos aceitar. Nosso emocional não está aguentando”, admitiu.

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) deverá ser criada na Assembleia Legislativa para apurar denúncias dos aumentos exorbitantes nos preços de medicamentos e insumos utilizados no combate da Covid-19. Proposta pelo deputado Dr. Thiago Duarte (DEM), a instalação do processo depende da adesão de 19 parlamentares, de acordo com a legislação.