A Associação Médica Brasileira (AMB) e todas as 54 entidades médicas de especialidade do país se uniram para redigir uma um manifesto que cobra medidas de autoridades do país para conter a atual crise enfrentada pela explosão de novos casos de Covid-19. O documento publicado nesta segunda-feira(15) e intitulado “Carta dos médicos do Brasil à nação”, os profissionais criticam, principalmente, a falta de um horizonte concreto em relação às vacinas.
“Não podemos viver de estimativas que não encontram respaldo na realidade. Um vaivém de informações desencontradas, uma dança de números de eventuais lotes de vacinas que deverão chegar e depois não chegam só leva ao descrédito das autoridades de saúde e a desalento na população. Soluções concretas, e não promessas vazias, é o que precisamos já”, diz um trecho do manifesto.
Segundo o presidente da AMB, César Fernandes, só existem duas saídas: “vacinação e cuidados gerais para minimizar a transmissibilidade do vírus”. O presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), Clóvis Arns , acrescentou que passamos pelo “momento mais crítico de nossa geração”. Ele lamentou o fato de não ter havido consciência por uma pequena parte da sociedade brasileira que continua se aglomerando e participando de festas clandestinas em um cenário que já não há mais leitos de UTI disponíveis em muitos locais.
Em meio à possível saída do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, o presidente da AMB disse que vê a necessidade de um técnico, “especialmente um médico” à frente da pasta. “Seria muito bem-vindo um ministro que tivesse formação técnica específica, e aí seria muito apropriado que fosse um médico. A AMB não indica e nem contraindica. Não seria nosso papel.”
Também presente na reunião, o médico neurologista Abram Topczewski, do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, foi mais firme nas críticas ao governo federal. “Quantos ministros já foram trocados? Por quê? Porque não estão com a mesma cartilha do presidente. Então são trocados. Não põem técnico lá porque o técnico não vai fazer o que o presidente está pretendendo que seja feito. […] A coisa fica muito complicada. Por outro lado, as informações oficiais são totalmente distorcidas da realidade. A gente tem exemplos de não precisar usar máscara, de não precisar ficar com confinamento social. Isso tudo leva a um povo que também é indisciplinado no que tem de ser feito.”
As entidades médicas também criaram um comitê extraordinário para monitoramento da Covid-19 chamado de CEM_Covid, cujo objetivo será alertar ainda mais as autoridades sobre os riscos que o país vive e as saídas para o momento atual.
Tratamento precoce e lockdown
Os representantes das sociedades de especialidades foram unânimes na contraindicação de qualquer medicamento sem comprovação científica para para profilaxia ou tratamento precoce da Covid-19.
A presidente da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), Irma Godoy, reforçou o posicionamento da entidade. “Todo paciente que tem suspeita de Covid deve ser acompanhado por um serviço médico, deve receber todos os cuidados necessários, orientações para saber quando deve ir ao médico, proteger todos os familiares. Tem que receber um atendimento de saúde, mas não deve ficar tomando medicamentos que não têm evidência científica comprovada. Nosso tratamento preventivo é máscara, distanciamento físico e vacina.”
Fernandes também pontuou que é importante o Brasil ter um plano de confinamento até para preservar a economia. Segundo ele, pode parecer que há um impacto na atividade econômica ao estabelecer o fechamento de serviços e comércios por um curto período, mas o dano pode ser maior se o vírus circular com intensidade.
Eles destacaram o fato de a taxa de isolamento no Brasil estar em torno de 33%, patamar insuficiente para conter o avanço rápido do vírus. O ideal, segundo os especialistas, seria algo próximo a 60%.