Um ano após OMS declarar a pandemia de Covid-19, mortos passam de 2,6 milhões no mundo

Em 12 meses, o Brasil se tornou um dos países com o maior número de casos e mortes por coronavírus

Foto: Ricardo Giusti/Correio do Povo

Há exatamente um ano a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a Covid-19 como uma pandemia. Na época, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, declarou que a organização estava preocupada com “os níveis alarmantes de contaminação” da doença e com a falta de ação dos governos. Em 11 de março de 2020, existiam mais de 118 mil casos em 114 países e 4,2 mil pessoas já haviam perdido a vida por conta de complicações relacionadas ao novo coronavírus (Sars-Cov-2).

Descrever a situação como uma pandemia, segundo a OMS, não altera a avaliação sobre a ameaça representada por esse vírus. “Os países devem adotar uma abordagem envolvendo todo o governo e toda a sociedade, construída em torno de uma estratégia integral e combinada para prevenir infecções, salvar vidas e minimizar o impacto”, disse, há um ano, o diretor-geral da OMS.

Doze meses se passaram e a situação, atualmente, está muito diferente da verificada naquela data. Atualmente, são mais de 117,1 milhões de casos no mundo inteiro, sendo 66,3 milhões de pessoas consideradas recuperadas. Além disso, o número de óbitos já passa dos 2,6 milhões. Os cinco países com maior número de casos são, respectivamente: Estados Unidos (29,1 milhões); Índia (11,2 milhões); Brasil (11,05 milhões); Rússia (4,2 milhões) e Reino Unido (4,2 milhões).

Com relação ao número de óbitos, o recorde está com os Estados Unidos, que alcançou a marca de 526,4 mil mortes por conta da Covid-19. E, diferentemente da situação dos casos, o segundo lugar com relação aos óbitos fica com o Brasil, que já contabiliza 266,3 mil vítimas fatais da doença. Nesse meio tempo, diferentes medidas foram adotadas. Há países que já passaram por mais de uma fase de lockdown, com restrição total das atividades, com exceção dos serviços considerados essenciais.

Outros países não decretaram lockdown em nenhum momento, como é o caso do Brasil, mas as restrições das atividades comerciais também têm se intensificado nos últimos meses. Isso porque, principalmente nos estados da região Sul do país, o contexto do sistema de saúde tem preocupado os governantes.

Cenas como aquelas vistas na Itália e em outros países da Europa no início de 2020, agora parecem estar se repetindo em território brasileiro. O colapso dos hospitais já se apresenta como uma realidade em diferentes localidades, inclusive no Rio Grande do Sul, onde as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) têm operado acima do limite da capacidade de 100% nos últimos dias.

Nos últimos meses também foi percebido um agravamento do quadro da doença. Não só pela identificação de novas variantes do novo coronavírus, que foram identificadas no mundo, mas também pela mudança no perfil dos pacientes graves da doença. No território gaúcho, por exemplo, o governo do Estado anunciou que os hospitais têm observado aumento nas internações de pacientes jovens e sem comorbidades nas UTIs.

Ao longo do ano que passou também foi possível observar a corrida pelas vacinas e, neste dia 11 de março, já é possível contabilizar diversas pessoas efetivamente imunizadas contra a Covid-19. No Rio Grande do Sul já foram recebidas oito remessas de vacinas contra a doença e, até o momento, profissionais da saúde e idosos, que são considerados grupos prioritários, já começaram a receber as doses.

Conforme o professor de Virologia da Universidade Feevale, Fernando Spilki, durante esse ano, pelo menos no Brasil, foram registradas pelo menos duas grandes “ondas” da doença. “Agora estamos verificando uma terceira onda já se desenhando, especialmente na região Sul do país, nosso controle da primeira onda não foi perfeito, mas na segunda onda os movimentos foram insuficientes”, declarou.

Ainda de acordo com Spilki, se revelou que temos uma infraestrutura de saúde que está medianamente colocada em relação a outros países do mundo, mas principalmente para um agravo de saúde desse tamanho, muitos leitos precisaram ser criados. “No início não estávamos preparados para oferecer tratamento para as pessoas em uma situação dessas”, pontuou.

Além disso, Spilki também enfatizou que o compartilhamento de notícias falsas e a polarização da discussão sobre a pandemia e os métodos para lidar com isso, prejudicaram diversas fases do enfrentamento. “Quando deveríamos estar discutindo questões sérias, estavam se debatendo por exemplo o tratamento precoce, que tinha poucas chances de dar certo”, frisou.

Spilki ainda ressaltou que os especialistas acreditam que o entendimento da gravidade da pandemia levaria gestores e a sociedade, em geral, a tomarem medidas mais aprofundadas que fossem suficientes para um manejo da situação no Brasil. “Isso foi ingenuidade, tivemos poucos momentos em que efetivamente se combateu a disseminação do vírus com medidas eficazes e, no resto do tempo, tivemos um debate entre a manutenção das atividades econômicas e a relação de custo benefício em combater ou não a pandemia e isso nos trouxe para essa pandemia arrastada, com várias ondas, porém sem o controle do processo”, afirmou.

Ele ainda destacou que, a partir de agora, não há outro caminho se não “realmente tomar medidas que sejam suficientes e que talvez sejam drásticas em algum ponto de vista”. “Temos que realmente retomar medidas de distanciamento social efetivas, que deem tempo para uma recuperação, mesmo que parcial da capacidade de atendimento dos sistemas de saúde e que, nesse meio tempo, fosse possível acelerar a vacinação, porque a única maneira que temos de combater de forma efetiva e com resultado mais duradouro essa fase da pandemia”, assinalou.