O agravamento da pandemia de coronavírus levou a Federação das Santas Casas do Rio Grande do Sul a divulgar uma nota, neste domingo, alertando para o esgotamento da rede hospitalar. O presidente da entidade, Luciney Bohrer, disse que a situação é extremamente preocupante em razão do número de pacientes recorrendo simultaneamente às instituições. “Temos pacientes com quadro de agravamento extremamente rápido e as estruturas físicas e recursos humanos cada vez mais comprometidos para poder atender essa demanda”, explica. Nos Vales, por exemplo, as UTIs de hospitais privados atingiam, na noite deste domingo, 360% de superlotação.
Bohrer ressalta, ainda, que há dificuldades para aquisição do chamado “kit intubação”: “São medicamentos com valores extremamente altos e com muita dificuldade de compra no mercado, devido à grande demanda no Brasil inteiro com relação ao uso dessas medicações”, enfatiza. Conforme o presidente da Federação, a dificuldade para compra de insumos, materiais e equipamentos é generalizada.
A fim de amenizar o déficit estrutural, no início da noite deste domingo a Secretaria Estadual da Saúde (SES) e o Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems) anunciaram a criação de um instrumento para intensificar o empréstimo de respiradores, monitores e até de camas entre as casas de saúde.
Dirigentes de hospitais devem preencher o formulário e indicar se dispõem de algum tipo de equipamento para cedência temporária. De posse desses dados, SES e Cosems vão compartilhar as informações. Alguns empréstimos, que já ocorreram, permitiram o atendimento de mais pacientes em hospitais de Ijuí, Santo Augusto e Santa Maria, assim como no pronto-atendimento de Capão do Leão.
“Possivelmente ainda haja, em alguns hospitais sem UTI, equipamentos sem uso que possam ser emprestados a hospitais com UTI”, disse a secretária da Saúde, Arita Bergmann.
Além de já ter comprado e distribuído 230 camas, 230 respiradores e 230 monitores às instituições hospitalares, a SES confirmou hoje a compra de mais 60 monitores, 60 respiradores e 57 camas para abrir leitos novos ou equipar os já existentes.
“Neste momento crítico, necessitamos, mais do que nunca, da ajuda de todos. Pedimos aos diretores das instituições que tiverem respiradores, monitores, bombas de infusão ou camas que possam ser disponibilizadas aos hospitais, que preencham o formulário para que possamos continuar atendendo a população que precisa”, apelou a diretora do Departamento de Gestão da Atenção Especializada da SES, Lisiane Fagundes.
Lotação de 103% em UTIs
Na noite deste domingo, o Rio Grande do Sul atendia 3.098 pessoas em UTIs, para um total de 3.005 leitos disponíveis, o que configura 103% de ocupação. O cenário segue mais grave na rede privada, onde o índice supera 115%, mas piorou durante o fim de semana também na rede do SUS, com taxa acima de 98%. No sistema público, só havia 40 leitos disponíveis, para as quase 500 cidades gaúchas, às 21h.
Dos 3.098 atendidos em UTIs, 2.201 tiveram teste confirmado de Covid-19 e 161 seguem aguardando o resultado do teste. Outras 736 pessoas eram atendidas, em estado grave, em função de outras enfermidades.
Cinco macrorregiões de saúde tinham déficit de vagas e superlotação nas UTIs: Metropolitana, Serra, Vales, Norte e Missioneira. Com isso, só havia leitos disponíveis no Sul e no Centro-Oeste.
A taxa de uso de respiradores era de 77,8%, na noite deste domingo. Já os leitos de enfermaria tinham 77,9% de ocupação. Um mês atrás, o índice era de cerca de 30%.
Dentro e fora de UTIs, incluindo as pediatrias, o domingo terminou com 7.974 pessoas internadas em todo o Rio Grande do Sul.