O cálculo do modelo de Distanciamento Controlado, a partir dos 11 indicadores relacionados à velocidade de propagação do coronavírus e à capacidade de atendimento hospitalar, reforçou a decisão do Gabinete de Crise de manter o Rio Grande do Sul em bandeira preta, pela segunda semana consecutiva. A medida fica em vigor até 21 de março diante de um cenário de colapso no sistema de saúde, com as UTIs operando a 102%, e de cifras galopantes, que variaram entre 92% e 366%, entre 4 de fevereiro e 4 de março (veja detalhes abaixo).
Embora algumas regiões tenham definido pelas medidas de lockdown no fim de semana, como o litoral Norte e o Vale do Rio Pardo, assim como seis cidades da região Carbonífera, além de municípios como São Leopoldo, Pelotas, Tupanciretã e Seberi, entre outros, o governador Eduardo Leite afastou a possibilidade de um lockdown estadual. Ainda assim, apertou regras de fiscalização, editou um decreto que prevê multa e punição em caso de descumprimento, e determinou que, para conter a disseminação da Covid, estabelecimentos liberados para funcionar terão de vender apenas itens essenciais, de alimentação, higiene e limpeza. Além disso, manteve o decreto que proíbe atividades em geral, entre 20h e 5h, até o dia 31 de março.
As decisões vêm no rastro de números surpreendentes. Na 44ª rodada da plataforma, a média para 19 das 21 regiões Covid se manteve superior a 2,50, o que justifica a bandeira preta. As exceções foram Bagé e Pelotas, que ficaram com notas compatíveis ao nível de bandeira vermelha. Ambas, contudo, também ficaram em preto em razão do acionamento da salvaguarda, em vigor desde a semana passada. Segundo essa regra, a bandeira de nível máximo é aplicada a todas as regiões enquanto a razão de leitos livres de UTI sobre leitos ocupados pela Covid, em UTI, se mantiver menor ou igual a 0,35, a nível estadual. Na rodada atual, essa taxa ficou negativa, em -0,01 – uma vez que a ocupação excedeu os 100% – e bem abaixo da semana anterior, quando a razão ficou em 0,17.
De uma semana para outra, o número de internados em leitos clínicos no Rio Grande do Sul subiu 58% (de 2.667 para 4.204), o total de doentes em UTIs cresceu 50% (de 1.343 para 2.015) e os óbitos atribuídos à Covid-19 aumentaram 61% (de 541 para 872) no comparativo com a rodada anterior.
Mesmo com o aumento de 10% em leitos de UTI e a redução significativa de internados por outras doenças, a entrada no sistema de saúde de pacientes confirmados com Covid, em UTIs, manteve o número de leitos negativo, o que indica operação acima da capacidade.
Em um mês, o indicador que menos se alterou variou 92%. Já o número de leitos livres em UTIs caiu 104%, fazendo do 12º mês de pandemia o pior e mais desafiador de todos, para os gestores e servidores da Saúde.
Covid: o que mudou, em um mês, no RS
Compare dados entre 4 de fevereiro e 4 de março:
• número de novos registros semanais de hospitalizações confirmadas com Covid-19: aumentou 260% entre as duas últimas semanas (de 783 para 2.818);
• número de internados em UTI por síndrome respiratória aguda grave (SRAG): aumentou 129% (de 970 para 2.220);
• número de internados em leitos clínicos com Covid-19: aumentou 366% (de 902 para 4.204);
• número de internados em leitos de UTI com Covid-19: aumentou 148% (de 813 para 2.015);
• número de leitos de UTI adulto livres para atender Covid-19: reduziu 104% (de 697 para déficit agregado de 25 leitos de UTI – ou seja, novos leitos foram abertos, mas em quantia insuficiente para dar conta da demanda);
• número de casos ativos: aumentou 92% (de 19.470 para 37.456);
• número de óbitos pela Covid-19 em sete dias: aumentou 178% (de 314 para 872).