Um a cada 10 habitantes do Rio Grande do Sul pode já ter sido infectado pelo coronavírus, de acordo com os dados mais recentes do estudo Epicovid19-RS (Estudo de Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19). Divulgada em transmissão virtual nesta quinta-feira, a nona etapa da pesquisa estima que a proporção de pessoas com anticorpos para a Covid-19 é de 10% (de 9,1% a 10,9%, pela margem de erro) da população gaúcha, o que corresponde a cerca de 1,13 milhão de pessoas (que pode variar de 1,03 a 1,23) que já foram contaminadas pelo coronavírus, mesmo que de forma assintomática.
Realizada em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a pesquisa aponta que a prevalência de Covid-19 no RS é, hoje, cerca de 7,2 vezes maior em comparação com a encontrada no levantamento anterior, realizado há cinco meses. Em setembro, o percentual de infecção era de 1,38%, equivalente a 156,7 mil pessoas.
“Ou seja, estamos longe da ‘imunidade de massa’, que deve ser atingida com patamares de imunização geral em torno de 60% a 80%”, explica o epidemiologista Aluisio Barros, um dos coordenadores do estudo na UFPel.
Menos pessoas em casa
O aumento da prevalência no Estado veio acompanhado de uma diminuição do número de pessoas respeitando as orientações de distanciamento social. De setembro para cá, o percentual da população que relatou sair de casa diariamente aumentou de 33% para 36%. Em comparação ao primeiro levantamento, realizado no início da pandemia, em abril, esse aumento chegou a 15 pontos percentuais, enquanto a proporção de pessoas que praticamente não saem de casa caiu de 22% para 10%.
“Pedimos que toda a população, na medida do possível, reduza os contatos, fique em casa e cuide de si e da família, dos amigos, dos colegas de trabalho. A doença é real e está cada vez mais perto de cada um. Neste momento crítico que passamos no RS, é importante que tenhamos todos os cuidados. Não há como expandir muito mais os leitos, e a expansão de leitos não é a resposta, porque cerca de 60% das pessoas que são internadas na UTI não sobrevivem. Existir leito não é garantia de não perder a vida. Por isso, o que realmente ajuda a salvar vidas é evitar a circulação do vírus, e para isso, precisamos de cada um dos gaúchos”, reforçou o governador.
Canoas mantém maior prevalência
Para a coleta dos dados, os pesquisadores entrevistaram e testaram 4,5 mil moradores de nove cidades gaúchas. Desse total, 443 apresentaram resultado positivo. 12,6% deles foram em Canoas, município que já vinha apresentando os maiores percentuais de casos em inquéritos anteriores. Passo Fundo teve 11,2% de positivos, e Santa Maria e Ijuí tiveram 10,2%. As prevalências foram de 10,5% em Uruguaiana; 9,5% em Caxias do Sul; e 8,9% em Pelotas. Porto Alegre e Santa Cruz do Sul apresentaram índice de 8,3%. Essas cidades respondem por 31% da população do Rio Grande do Sul.
Novo teste
Na nona etapa, a pesquisa introduziu um novo teste de anticorpos capaz de identificar casos de infecções mais antigas, além dos testes rápidos que já faziam parte dos procedimentos de coleta. Desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, o novo método batizado de S-UFRJ consiste em uma variação do teste Elisa (sigla em inglês para ensaios de imunoabsorção enzimática).
É um teste de laboratório que se baseia em uma relação antígeno-anticorpo. Uma preparação de uma proteína presente no envoltório do vírus é aderida a uma placa que, a seguir, recebe o soro em teste (amostras de sangue).
A UFPel desenvolveu o estudo de validação do S-UFRJ, que avalia o uso dos testes em pesquisas populacionais, e concluiu que o método de testagem apresentou alta sensibilidade – em torno de 92% – para detectar anticorpos mesmo após cinco meses da infecção.
“Nas primeiras fases, o teste que utilizávamos era suficiente, pois vivíamos os primeiros meses da doença. Com a nova técnica, garantimos condições de identificar pessoas que tiveram a doença há mais tempo”, esclarece o epidemiologista Aluisio Barros.
Vacina o mais rápido possível
Os autores sugerem investimento para acelerar a vacinação o mais rápido possível, dando prioridade aos grupos mais vulneráveis a formas graves e ao óbito pela doença, como idosos e pessoas com comorbidades. Além disso, advertem que o avanço da vacinação não só reduz o número de doentes e de óbitos, mas também evita o aparecimento de novas mutações na medida em que reduz a circulação do vírus e da taxa de reprodução.
Ao mesmo tempo, é essencial continuar com as medidas preventivas – uso de máscara e distanciamento, em paralelo ao processo de vacinação.
A pesquisa segue em andamento no Rio Grande do Sul. A coleta de dados e testes da 10ª etapa deve ocorrer de 9 a 12 de abril. O estudo conta com financiamento do Todos Pela Saúde, Banrisul, Instituto Serrapilheira, Unimed Porto Alegre e Instituto Cultural Floresta.