Um almoço, no Galpão Crioulo, no Palácio Piratini, nesta quinta-feira, deve dar início à articulação para que o governador Eduardo Leite (PSDB) seja alternativa do partido à Presidência da República, em 2022. O movimento ocorre no mesmo momento em que lideranças da sigla reagem com cautela à pressão do governador de São Paulo, João Dória, para ser o nome do partido na disputa, sem uma discussão interna.
Oficialmente, o encontro vai servir para aproximar um grupo de deputados federais do partido, vindos de vários estados, com o governador. Esse movimento era para ter iniciado ainda no ano passado, mas acabou adiado em função da pandemia. Inclusive, por isso, apenas 12 dos 29 parlamentares federais vão participar. A previsão é que haja outro encontros nas próximas semanas. O almoço vai ter ainda as presenças da bancada estadual e do chefe da Casa Civil, Artur Lemos.
Segundo o deputado federal Lucas Redecker, que articulou o encontro, a ideia é que Eduardo Leite apresente as conquistas realizadas nos primeiros dois anos de governo, como as reformas, e que indique as prioridades do Executivo estadual na Câmara Federal. Mesmo assim, o cenário nacional entra na pauta. “A ideia não é lançar a candidatura (de Leite), mas discutir o panorama nacional e as alternativas”, enfatizou.
É nesse contexto que Leite pode ser incluído como uma alternativa à disputa presidencial. Sobre Dória, Redecker considera legítima a intenção dele de ser candidato, mas entre o ‘desejo’ e o ‘concreto’ há uma distância que precisa ser trabalhada. O colega de bancada, Daniel Trzeciak, na mesma linha, reforça a necessidade de diálogo no partido. “Não podemos aceitar decisões que vêm de cima para baixo. Precisamos pensar no projeto que a gente quer e depois decidir quem melhor corresponde”, afirmou, complementando que há um movimento interno de parlamentares que querem participar dessas discussões do partido. “O PSDB não é de uma pessoa e não tem um dono. É plural”, afirmou. Para Mateus Wesp, presidente estadual do PSDB, a liderança deve ser construída e não imposta sem discussão.
Dória pressiona por posicionamento
No momento em que Eduardo Leite soma vitórias no âmbito estadual, o governador paulista João Dória gera desconforto entre algumas lideranças ao promover uma ofensiva para que os deputados federais tenham uma postura mais incisiva de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O duelo entre Dória e Bolsonaro se intensificou durante a pandemia e ganhou um round na discussão sobre vacinação contra a Covid-19. Segundo o governador paulista, o partido precisa estar unido e fazer o cumprir o papel que lhe cabe. “O PSDB precisa assumir o posicionamento de partido de oposição ao governo de Jair Bolsonaro. Estarmos divididos só ajuda Bolsonaro e seu projeto político de extremismo e autoritarismo”, afirmou Dória.
Apesar do discurso, alguns integrantes da sigla compreenderam o gesto como uma imposição, e não de abertura de possibilidade de diálogo. Para o presidente estadual do PSDB, Mateus Wesp, que também é deputado estadual, o gesto de Dória (de antecipar a discussão sobre 22) pode ser considerado uma “afobação”. Wesp considera impróprio antecipar a discussão pela sucessão presidencial ainda em meio a uma pandemia. “Dória criticou o presidente (Bolsonaro) por fazer isso. São dois pesos e duas medidas?”, questionou. Para ele, o movimento em torno de Eduardo Leite é para dialogar uma “possibilidade de alternativa” e de não aceitar a imposição do ‘cabresto’.
Governador soma conquistas em dois anos
Desde a campanha eleitoral pelo comando no Palácio Piratini, Eduardo Leite sempre afirmou não ter intenção de concorrer à reeleição e, após assumir o cargo, nunca escondeu ter ambições nacionais na carreira política. Inclusive, houve uma mudança considerável no discurso adotado pelo governador em manifestações na virada do ano. A narrativa da crise deu espaço para as conquistas e a retomada do Estado. No dia 14 de janeiro, anunciou concursos públicos para repor cerca de 3,4 mil vagas no serviço público.
Nessa semana, na Assembleia Legislativa, utilizou um discurso marcado pela conciliação e de união para realizar as demais reformas, entre elas a tributária. Na bagagem, Eduardo Leite carrega a aprovação da maior reforma administrativa do Estado, com alterações em carreiras, e a mudança na previdência dos servidores civis, assim como a redução do déficit financeiro. Além disso, há o movimento de privatizações, que deve ser concretizado nos próximos meses. “É uma prova de gestão que está dando certo”, avaliou o deputado Lucas Redecker.
Para o deputado Mateus Wesp, o governador vem obtendo cada vez mais reconhecimento, além da capacidade de gestão, mas também pela capacidade de produzir, como político, citando as conquistas dos dois primeiros anos da administração no governo do Estado.