Com 302 votos, Arthur Lira é eleito presidente da Câmara

Com apoio de Rodrigo Maia, Baleia Rossi teve 145 votos, na noite desta segunda-feira

Foto: Câmara dos Deputados / Divulgação

O deputado Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão, vai ser o novo presidente da Câmara Federal pelos próximos dois anos. Apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, Lira recebeu 302 votos, contra 145 do principal concorrente, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), lançado pelo agora ex-presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Além do apoio do Palácio do Planalto, Lira conseguiu ampliar a base na reta final da eleição. Entre as principais conquistas da campanha, os apoios do PSD; do PSL, que mudou de lado dias antes da eleição, e um racha no partido de Maia, o DEM. Em discurso no início da sessão, o deputado alagoano prometeu dar voz a todos os colegas da Casa.

Disputaram a eleição outros seis deputados: Marcel van Hatten (Novo-RS) e Luiza Erundina (PSol-SP), pelos respectivos partidos, e os candidatos independentes André Janones (Avante-MG), General Petternelli (PSL-SP), Fábio Ramalho (MDB-MG) e Kim Kataguiri (DEM-SP).

O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) renunciou à candidatura independente que havia registrado nesta segunda-feira, no início da sessão. Em discurso crítico ao presidente Jair Bolsonaro, antigo aliado, Frota declarou apoio a Baleia Rossi.

Veja os placares das últimas eleições a presidente da Câmara:

2019

Rodrigo Maia (DEM-RJ) – 334 votos
Fábio Ramalho (MDB-MG) – 66 votos
Marcelo Freixo (PSOL-RJ) – 50 votos
JHC (PSB-AL) – 30 votos
Marcel Van Hattem (Novo-RS) – 23 votos
Ricardo Barros (PP-PR) – 4 votos
General Petterneli (PSL-SP) – 2 votos
Brancos – 3 votos

2017

Rodrigo Maia (DEM-RJ) – 293 votos
Jovair Arantes (PTB-GO) – 105 votos
André Figueiredo (PDT-CE) – 59 votos
Julio Delgado (PSB-MG) – 28 votos
Luisa Erundina (PSOL-SP) – 10 votos
Brancos – 5 votos
Jair Bolsonaro (PSL-RJ) – 4 votos

2016

Rodrigo Maia (DEM-RJ) – 285 votos
Rogério Rosso (PSD-DF) – 170 votos

2015

Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – 267 votos
Arlindo Chinaglia (PT-SP) – 136 votos
Chico Alencar (PSOL-RJ) – 8 votos
Brancos – 2 votos

Alinhado ao governo

Lira está alinhado ao governo Bolsonaro, principal cabo eleitoral do progressista. O presidente se reuniu com partidos e parlamentares, ao longo da campanha, e afirmou que a eleição do deputado pode garantir “um relacionamento pacífico e produtivo” com a Câmara. O chefe do Executivo também exonerou dois dos ministros, Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Tereza Cristina (Agricultura), para votarem no líder do Centrão.

Com a eleição de Lira, a expectativa é que as reformas econômicas sejam destravadas, mas a independência do Legislativo pode ficar mais distante. O parlamentar do Centrão foi o responsável não só por apoiar a Reforma da Previdência, em 2019, como partiu dele a ideia de aproximação com Bolsonaro em 2020.

Perfil

Arthur Lira está no terceiro mandato. É um agropecuarista que começou a vida política em 1992, quando foi eleito vereador em Maceió, capital de Alagoas.

Tornou-se líder do Centrão na atual legislatura por ter trânsito fácil com os partidos no Congresso. Amigo do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, hoje preso por causa de investigações da Lava Jato, teve contra ele denúncias vindas da mesma operação.

Antes de ser do PP (Partido Progressistas) , passou pelo PFL, PSD, PTB e PMN.

Filho do ex-senador Benedito de Lira (PP), ele aprendeu com o pai a se manter forte em todos governos e a aproveitar as oportunidades. Nos bastidores do Congresso em Brasília é dito que ele costuma trocar apoio por cargos importantes, o que pode explicar algumas nomeações do governo federal nos próximos meses.

Lira criticou o governo de Bolsonaro pelas pautas de costumes e por polêmicas desnecessárias em 2019, mas tornou-se um aliado importante da atual gestão na tramitação da Reforma da Previdência e de outras iniciativas do governo federal.

O deputado também apoiou a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News, em 2019, criada para apurar abusos cometidos por apoiadores de Bolsonaro.

Por outro lado, partiu dele o esforço para tornar o Centrão em 2020 a base aliada do presidente da República, iniciativa agora recompensada com o apoio à candidatura.

A ideia de que o alagoano vá fechar os olhos e aceitar todas as determinações do chefe do Executivo é vista com bastante cautela até mesmo pelo Planalto. Em declarações recentes, o candidato apontou falhas na condução da pandemia por parte do governo federal, fazendo críticas ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

Arthur Lira garantiu ainda que não passa pela futura gestão a criação de um imposto sobre transações, uma espécie de nova CPMF, sugerida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Em 2016, o progressista votou pela saída da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Em 2018, se mostrou contrário à admissibilidade do pedido de impeachment do sucessor dela, Michel Temer (MDB).

Lava Jato

O deputado alagoano teve de responder a várias acusações graves durante a vida política. Entre elas citações de delatores da Operação Lava Jato, segundo as quais ele fazia parte de um grupo do PP por trás do esquema criminoso que saqueou a Petrobras.

No início de dezembro do ano passado, poucos dias antes de anunciar a candidatura, um juiz de primeira instância o livrou, pelo menos temporariamente, de uma outra acusação, de ser responsável por ‘rachadinha’ (apropriação de parte do dinheiro dos servidores) na Assembleia Legislativa de Alagoas entre 2003 e 2006, período em que era deputado estadual.

O Ministério Público de Alagoas recorreu da decisão, assinada pelo juiz Carlos Henrique Pita Duarte. De acordo com a sentença, as provas utilizadas na acusação são ilícitas e não podem ser levadas em conta.

O caso chegou ao STF em 2018, após a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, encaminhá-lo à Suprema Corte e solicitar a perda de mandato do parlamentar. O processo, por decisão da Corte, foi enviado ao Tribunal de Justiça de Alagoas.

O Supremo, no entanto, analisa outra acusação contra ele, também ligada à Lava Jato. No fim de novembro de 2020, a 1ª Turma manteve na Casa o processo em que Arthur Lira é acusado de recebimento de propina de R$ 106 mil do então presidente da CBTU (Companhia Brasileira de Transportes Urbanos) Francisco Colombo, em 2012.

Em outro caso, em setembro de 2020, dois meses depois de denunciar Lira usando informações passadas por delatores, que disseram que o deputado recebeu 1,6 milhão em propina da construtora Queiroz Galvão, a PGR (Procuradoria-Geral da República) voltou atrás e pediu o arquivamento da denúncia.