A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou na noite deste sábado (2) que liberou a importação excepcional de dois milhões de doses da vacina da Oxford/AstraZeneca contra a Covid-19. A decisão foi assinada na última quinta, 31 de dezembro, segundo a nota, mesmo dia em que Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela fabricação e distribuição no Brasil, entrou com o pedido para importar o imunizante. Com a decisão, o laboratório público espera que a vacinação no País comece ainda em janeiro.
A importação é considerada excepcional porque o uso do medicamento ainda não foi autorizado formalmente pela agência, mas será trazido ao país para que a vacinação possa ser iniciada imediatamente após o uso ser liberado. A Fiocruz afirma que irá pedir na próxima semana o aval para uso emergencial do imunizante, o que deve permitir a aplicação em grupos restritos pelo Sistema Único de Saúde, como de profissionais de saúde ou idosos.
“De acordo com o pedido da Fiocruz, a importação excepcional é uma preparação para antecipar a disponibilização de vacinas a partir do momento em que o seu produto estiver aprovado pela Anvisa”, diz o comunicado da agência. Como se trata de uma autorização emergencial, algumas regras foram estabelecidas. A mais importante é que todas as doses serão armazenadas pela Fiocruz até que o uso seja liberado.
A Anvisa estima que avaliará pedidos de uso emergencial de vacinas em no máximo dez dias. A diretora responsável pela área de vacinas, Meiruze Fritas, disse, em entrevista ao Estadão, que o aval pode ser dado até mais cedo, pois serão considerados os dados já apresentados pelas farmacêuticas. A ideia é distribuir 210,4 milhões de doses em 2021, que serviriam para imunizar mais de 105 milhões de pessoas. O governo investiu cerca de R$ 2 bilhões para a compra de doses e transferência de tecnologia para a Fiocruz. No PNI (Plano Nacional de Imunização), o prevê aplicar doses desta vacina em cerca de 50 milhões de brasileiros de grupos prioritários ainda no primeiro semestre.
“Essas vacinas serão fornecidas pelo Serum Institute of India, parceiro tecnológico da Fiocruz, fornecedor do PNI e ator central na produção e distribuição em escala global dessa vacina, inclusive por intermédio da iniciativa COVAX. No entanto, para levarmos a cabo essa operação, faz-se necessária a autorização prévia da Anvisa para importação dessa vacina em caráter de excepcionalidade”, informa a Fiocruz à Agência Estado.
Ao pedir a liberação da importação, o laboratório coloca como justificativa a “situação de emergência sanitária que requer o início da vacinação no menor prazo possível.” Responsável por coordenar o estudo clínico da vacina no Brasil, a médica Lily Yin Weckx disse ao Estadão que a primeira dose da vacina já mostra eficácia de cerca de 70% contra a doença, mas em intervalo curto.
“A gente ainda pode ficar com a média de eficácia de 70%. O estudo continua, teremos um ano de segmento para ver a persistência da proteção, dos anticorpos, de segurança, etc. O que é importante é que temos uma vacina segura, eficaz e que pode fazer a diferença na pandemia. Esses números de 60%, 70%, 80% são de proteção contra a doença covid. Mas se considerarmos doenças graves e hospitalização, a vacina foi capaz de evitar quase 100%. Entre as pessoas que foram vacinadas, nenhuma delas teve uma doença grave nem ficou hospitalizada por Covid-19. Todas as hospitalizações ocorreram no grupo controle”, afirmou.
Liberação mundial
O Reino Unido autorizou em 30 de dezembro o uso emergencial da vacina de Oxford/AstraZeneca contra o novo coronavírus, em regime de aplicação de duas doses completas, com intervalo de um a três meses. O Ministério da Saúde afirma que, no melhor cenário, a vacinação começará em 20 de janeiro no Brasil. A importação das doses prontas marca uma mudança de estratégia da Fiocruz, que pretendia trazer o insumo farmacêutico da vacina ao Brasil em janeiro, terminar a fabricação no País, mas só liberar as primeiras unidades ao público em fevereiro.
O Instituto Butantã também importou doses de vacina contra a covid-19 produzida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. O governo paulista afirma ter estoque de 10,8 milhões de doses da Coronavac. O Butantã também afirma que pedirá aval para uso de sua vacina nas próximas semanas e mira 25 de janeiro como data para o começo da vacinação.