Batata-doce biofortificada é reconhecida em concurso internacional

Cultivar biofortificada foi criada pela Embrapa no RS

Foto: Embrapa

O trabalho de difusão da batata-doce biofortificada BRS Amélia foi um dos quatro vencedores no “Terceiro concurso de casos exitosos. Inovações de impacto. Lições da agricultura familiar e sua vinculação com a nutrição na América Latina e Caribe.” A ação com a cultivar faz parte da rede de pesquisa e transferência de tecnologia em biofortificação de alimentos coordenada pela Embrapa, a Rede BioFORT.

A iniciativa “BRS Amélia, un camote contra la malnutrición en el sur de Brasil” venceu na modalidade “Setor público nacional e organizações não-governamentais da América Latina, Caribe e Espanha”, tendo concorrido com outras 51 experiências. Também foi reconhecida na categoria “Setor regional ou internacional”, juntamente com iniciativa de biofortificação realizada na Guatemala.

Como prêmio, a Rede BioFORT receberá recursos que serão convertidos para fortalecimento das ações de melhoramento e transferência de tecnologia. Além disso, o trabalho ganhou espaço em publicação que reúne outros dez casos de destaque e que será distribuída internacionalmente em espanhol e inglês.

Para o coordenador da Rede BioFORT e pesquisador da Embrapa Agroindústrias de Alimentos (Rio de Janeiro, RJ), José Luiz Viana de Carvalho, que participou da solenidade de premiação, o reconhecimento representa 20 anos de um trabalho árduo para levar tecnologias a pequenos agricultores de norte a sul do Brasil. “Esse prêmio significa muito para toda a Rede BioFORT! É um grande orgulho para mim e creio que para todos os membros do projeto”, disse.

“Temos que fazer alguma coisa para melhorar aquilo que podemos, não só pelos pequenos agricultores, mas por todas as pessoas que têm fome. A fome não espera. E a biofortificação é mais uma ferramenta para se combater este mal que é a fome oculta, a falta de micronutrientes. Estamos trazendo segurança alimentar às pessoas que mais necessitam”, completou.

BRS Amélia

Lançada em 2011 pela Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS), a variedade possui polpa alaranjada e biofortificada com pró-vitamina A. Enquanto outras cultivares tradicionais registram apenas traços de carotenóides, a BRS Amélia contém 4,7 mg por cada 100g de polpa, o que a posiciona como importante ferramenta na luta contra a desnutrição. E, além dos benefícios nutricionais, também apresenta alta produtividade, com rendimento que ultrapassa 32 mil quilos por hectare.

O trabalho de difusão premiado foi realizado pela equipe de Transferência de Tecnologia e de Comunicação da Embrapa Clima Temperado, com apoio de um conjunto de instituições parceiras e de agricultores e indígenas. Os esforços foram responsáveis por aumentar a adoção da variedade em regiões, principalmente no Rio Grande do Sul, onde o consumo da hortaliça já era popular, mas que tinha como destaque as variedades de polpa branca.

Dados da Embrapa indicam que, de 2011 a 2018, cerca de 375,1 mil mudas da cultivar foram comercializadas por produtores licenciados. Hoje, estima-se que a BRS Amélia cubra 15% da área cultivada no Estado, beneficiando cerca de 5 mil agricultores familiares. Saiba mais sobre a ação neste link (em espanhol).

O concurso

Organizado pelo Fontagro desde 2012, o Concurso de Casos Exitosos busca documentar exemplos bem sucedidos de inovação na agricultura para melhorar a disponibilidade e qualidade nutricional dos alimentos. Também, busca identificar experiências que tenham potencial para reprodução em outros locais.

Dos quatro casos premiados, três estão ligados a trabalhos com biofortificação de alimentos. Além do caso da BRS Amélia, foram reconhecidos: “Biofortificación enfrenta al hambre oculta en Panamá” e “Plataforma BioFORT: La ruta nutritiva hacia la mesa de guatemaltecos.” “Estamos no caminho”, afirmou Apes Perera, analista da Embrapa Clima Temperado e coordenador das ações de Transferência de Tecnologia da Rede BioFORT no Rio Grande do Sul e Paraná.

Ao final do evento de premiação, foi realizado um painel para discutir perspectivas de futuro, que contou com a participação da pesquisadora Marilia Nutti, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, atualmente coordenadora do Harvest Plus na América Latina e Caribe. Ela apresentou um histórico sobre a implantação da biofortificação na América Latina e falou sobre a importância de investimento nas pesquisas e atividades.

“Eu diria que o futuro é agora. Portanto, devemos seguir buscando a segurança alimentar com a qualidade nutricional nos alimentos. Os próximos passos são estabelecer alianças privadas e públicas necessárias para chegar às populações de nossa região. Eu acredito que a nossa região precisará implementar sistemas alimentares sustentáveis, considerando o mercado existente, a fim de oferecer mais alimentos nutritivos para a população”, avaliou a pesquisadora.

Fontagro

O Fontagro é uma forma de cooperação entre países da América Latina, Caribe e Espanha, que promove a inovação da agricultura familiar, a competitividade e a segurança alimentar. Foi criado em 1998 com o objetivo de contribuir para o manejo sustentável dos recursos naturais, a melhoria da competitividade e a redução da pobreza, mediante o desenvolvimento de tecnologias e inovações de relevância para a sociedade e seus países membros.

Atualmente, integram a entidade 15 países: Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Espanha, Honduras, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Patrocinam a iniciativa o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura.

BioFORT

A Rede BioFORT é o conjunto de projetos responsáveis pela biofortificação de alimentos no Brasil. Ligado ao Harvest Plus, busca diminuir a desnutrição e garantir segurança alimentar e nutricional através do aumento dos teores de ferro, zinco e vitamina A na dieta da população mais carente – três das maiores carências mundiais. No Brasil, a biofortificação consiste na seleção e cruzamento de plantas da mesma espécie, gerando cultivares mais nutritivas, com foco no melhoramento de alimentos básicos, como arroz, feijão, feijão-caupi, mandioca, batata-doce, milho, abóbora e trigo.

Além da Embrapa Agroindústria de Alimentos, onde está a liderança da Rede BioFORT, e da Embrapa Clima Temperado, responsável pelo trabalho com a variedade BRS Amélia, também integram a Rede as unidades: Alimentos e Territórios (Maceió, AL), Amazônia Oriental (Belém, PA), Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás, GO), Cocais (São Luís, MA), Hortaliças (Brasília, DF), Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA), Meio-Norte (Teresina, PI), Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG), Pantanal (Corumbá, MS), Semiárido (Petrolina, PE), Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE) e Trigo (Passo Fundo, RS).