Depois de quase 10 meses de medidas restritivas e isolamento social por conta da pandemia da Covid-19, a vida financeira dos gaúchos segue prejudicada pelas consequências econômicas trazidas pelo coronavírus. Conforme pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos de Protesto do RS (Iepro-RS), que ouviu 753 pessoas em todas as mesorregiões Covid durante 26 de novembro e 9 de dezembro, 37% dos entrevistados disseram estar sendo afetados financeiramente pela crise causada pelo coronavírus. Desses, 23% relataram estar sendo “muito afetados” pela pandemia.
A consequência do impacto negativo no orçamento se reflete em dívidas, que atingem quatro em cada 10 gaúchos. Segundo a pesquisa, as contas em atraso de mais de um terço dos entrevistados vão de R$ 1 mil a R$ 2 mil.
O cartão de crédito lidera esse ranking: 24% dos gaúchos não conseguiram quitar a fatura. Na sequência, aparecem as dívidas com crediário e carnê de lojas (18%) e TV por assinatura, serviço de streaming e telefone (10%).
Para o presidente do Iepro-RS, Romário Pazutti Mezzari, “o cartão de crédito deve ser prioridade no pagamento de dívidas, pois os juros são muito altos. Para isso, é importante analisar se há alternativas no mercado, como empréstimos que tenham juros mais baixos que o rotativo do cartão de crédito, e pagar a fatura total antes que vire uma bola de neve”. O presidente alerta, ainda, sobre a importância de negociar as dívidas. “Quem está nessa situação deve focar na organização financeira, cortando gastos e evitando novas compras parceladas, mas, acima de tudo, buscar uma renegociação com a empresa credora, aproveitando para negociar descontos ou melhores condições de pagamento”, finaliza.
Principais dívidas pendentes
Cartão de crédito: 24%
Crediário / carnê de lojas: 18%
TV por assinatura, telefone, serviço de streaming: 10%
Aluguel: 8%
Empréstimo bancário / financeiras: 7%
Água / luz: 7%
Dívidas com amigos e familiares: 5%
IPVA: 5%
Financiamento casa / carro: 4%
Mensalidade escola / faculdade / curso: 4%
Cheque especial: 3%
IPTU: 2%
Pensão alimentícia: 2%
Dívidas com hospitais e planos de saúde: 2%
Importância da reserva financeira
A pandemia também trouxe aprendizados sobre a importância de se ter uma reserva de emergência para 24% dos entrevistados, que começaram a guardar dinheiro neste ano, como forma de se prepararem para possíveis adversidades que possam atravessar, por conta da instabilidade da economia. Mas nem todos conseguem economizar. Quase metade dos entrevistados não dispõe de sobras e ainda não começou a poupar dinheiro.
“A pandemia de coronavírus trouxe impactos negativos para muitos gaúchos. Quem não tinha uma reserva financeira e perdeu o emprego ou teve uma redução na renda enfrentou grandes dificuldades para arcar com as despesas mensais. Já quem tinha uma reserva de emergência pôde enfrentar os buracos no orçamento com mais tranquilidade”, ressaltou Mezzari. Felizmente, 27% dos gaúchos já possuíam uma reserva financeira pré-pandemia.
Conforme o presidente, esse número é muito positivo para manter a organização financeira familiar. “Esperamos que esse número aumente ainda mais nos próximos anos e que as pessoas não esqueçam da relevância de se ter uma reserva depois que a sua situação financeira melhorar”, disse.
Redução de gastos
Para 54% dos gaúchos os gastos foram reduzidos, em comparação com o período anterior à pandemia. A alimentação e o lazer foram os segmentos mais impactados no corte de gastos: 15% suspenderam ou reduziram a frequência a bares, restaurantes e cinemas e 9% pararam ou diminuíram pedidos de delivery (tele-entrega) de refeições.
As compras também sofreram impactos, principalmente de itens não essenciais: 14% pararam ou diminuíram as compras de itens supérfluos no supermercado e 14% pararam ou diminuíram as compras de roupas, sapatos, maquiagem e perfume, por exemplo. Dos entrevistados, 11% responderam que pararam ou diminuíram a frequência a salão de beleza e barbearia e 10% pararam de viajar.
Confira
Está indo menos (ou parou de ir) a restaurantes, bares e cinema: 15%
Parou ou diminuiu as compras de itens supérfluos no supermercado: 14%
Parou ou diminuiu as compras de roupas, sapatos, maquiagem, perfumes, etc: 14%
Parou ou diminuiu as idas ao salão de beleza, estética, barbeiro: 11%
Parou de viajar / não planeja viajar: 10%
Parou ou diminuiu pedidos de delivery (tele-entrega) de refeições: 9%
Cancelou internet / conta de telefone:6%
Cancelou mensalidades em academias e clubes: 6%
Cancelou TV por assinatura, serviço de streaming (Netflix, Spotify, Amazon Prime, etc): 5%
Cancelou matrícula própria ou de familiares em escolas, universidades e cursos privados: 4%
Cancelou assinatura de revistas e jornais: 4%
Está utilizando transporte público para economizar combustível: 3%
Comparação
Apesar de os números negativos ainda serem um sinal de alerta para a economia do Rio Grande do Sul, em comparação com a mesma pesquisa realizada em agosto, alguns indicadores melhoraram, o que gera otimismo para o próximo ano. “Esses resultados são reflexo da flexibilização das regras de isolamento social que impactaram no retorno da oferta e no aumento da demanda. Esperamos que o controle da doença traga mais segurança aos gaúchos para que a economia do Rio Grande do Sul volte a crescer”, analisou Mezzari.