Governo prevê 24 milhões de doses em janeiro, mas nega data para início da vacinação

No Senado, ministro Pazuello ainda criticou a farmacêutica Pfizer, que negocia com o governo federal

Foto: Isac Nóbrega / PR

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse, nesta quinta-feira, que o governo federal prevê receber 24,5 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 em janeiro. Dessas, 9 milhões virão do Instituto Butantan, em São Paulo, que desenvolve a Coronavac em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. Em audiência no Senado, o ministro disse que está “partindo para um contrato” com o laboratório ligado ao governo de São Paulo para a compra do imunizante.

Pazuello negou aos senadores que o Brasil esteja atrasado no processo de imunização. Ao contrário, declarou que o país está “na vanguarda” em relação a outros países. De acordo com o ministro, das 24,5 milhões doses que o Brasil deve receber em janeiro, 500 mil serão da Pfizer, 15 milhões da AstraZeneca/Oxford e 9 milhões do Butantã/Sinovac. As informações foram publicadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.

O ministro citou que há uma acordo assinado com o Butantan para comprar 46 milhões de doses ao todo. O memorando, que não obriga a aquisição, havia sido firmado ainda em outubro. À época, o ministro chamou o produto de “a vacina brasileira”, mas o presidente Jair Bolsonaro desautorizou o ministro por causa de disputa política com o governador João Doria (PSDB). Na ocasião, Pazuello recuou e negou o negócio.

Na audiência, o ministro ainda repetiu que a Fiocruz deve entregar mais de 200 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca em 2021. No plano nacional de imunização contra a Covid-19 apresentado nesta quarta-feira, o governo fala em dispor de mais de 350 milhões de doses de vacinas em 2021, sendo que a imunização exige duas etapas de aplicação.

Pelo calendário da pasta, além das 24,5 milhões de doses em janeiro, a previsão é receber outras 37,2 milhões em fevereiro, sendo 500 mil da Pfizer, 15,2 milhões da AstraZeneca/Oxford e 22 milhões do Butantan. Em março, serão mais 31 milhões. “A partir daí equilibra o número”, disse Pazuello, sem detalhar o cronograma.

Após estimar o início da vacinação em fevereiro ontem, Pazuello voltou a condicionar a data ao registro de uma vacina pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Estamos realmente com as previsões prontas. Temos de ter em mente é que estamos presos à entrega e ao registro”, disse. No plano nacional, a ideia é vacinar os grupos prioritários ainda no primeiro semestre.

Em nota divulgada, também nesta quinta, o Ministério da Saúde negou que esteja definido o começo da vacinação em fim de janeiro. A previsão havia sido citada ontem por governadores da oposição que se reuniram com Pazuello. “O Ministério da Saúde esclarece que não estabeleceu qualquer data para o início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil. Isso porque não existe sequer pedido de registro realizado por nenhum laboratório junto à Anvisa”.

Críticas à Pfizer
Durante a reunião no Senado, Pazuello ainda criticou a farmacêutica Pfizer, que negocia com o governo federal a distribuição de 70 milhões de doses de vacina contra a Covid-19 em 2021. O laboratório americano já conseguiu o aval de autoridades sanitárias dos Estados Unidos e do Reino Unido, que já começaram a utilizar o imunizante.

Pazuello reclamou do número de doses oferecidas pela empresa para os primeiros meses de 2021, além da exigência de assinar cláusula para isentar a empresa de responsabilidade sobre efeitos colaterais da vacina ou de julgamentos em tribunais do Brasil. “Pasmem, estamos pensando em aceitar. É uma realidade, isso, claro, precisa passar pela decisão do governo e chancela do Congresso”, disse o ministro.

Segundo ele, as condições apresentadas pela empresa durante a negociação para compra da vacina “foram realmente muito duras”. “Isenção completa de qualquer responsabilidade de efeitos colaterais da empresa. 100% de isenção. A Pfizer também não quer ser julgada nos nossos tribunais”, afirmou.

Pazuello ainda reclamou sobre a quantidade de doses: “só 500 mil em janeiro, 500 mil em fevereiro, e 1 milhão em março. Essa foi a proposta inicial. A segunda proposta, só mudou pela caixa de isopor”, disse ele, referindo-se a uma caixa de armazenamento a -70º Celsius que a empresa se comprometeu a entregar ao ministério.

De acordo com o plano de imunização apresentado na quarta pelo governo federal, a Pfizer vai entregar 70 milhões de doses em 2021, sendo 2 milhões no primeiro trimestre. No semestre, a soma não passa de 8,5 milhões. Outras 32 milhões de unidades devem chegar no terceiro trimestre e 29,5 milhões no restante do ano.

O ministro reforçou que Reino Unido e Estados Unidos ainda não registraram a vacina da Pfizer, o que permite a venda das doses e a vacinação em massa, mas apenas liberaram o uso emergencial.