A Brigada Militar vai instaurar um inquérito para apurar os fatos ocorridos, nesta terça-feira, na vila Cruzeiro, zona Sul de Porto Alegre, onde a morte de uma moradora motivou um protesto contra os PMs. Segundo a BM, a mulher – identificada como Jane Beatriz Machado da Silva, de 60 anos – teve um mal súbito durante a abordagem. Familiares dizem que um policial a empurrou e que a vítima caiu de uma escada, morrendo em atendimento.
A BM informou que deslocou efetivo à região para atender uma denúncia de maus tratos a menores. Com a sequência dos acontecimentos, uma manifestação se formou e pedras foram jogadas contra os militares, que revidaram com bombas de efeito moral. Ninguém se feriu.
O protesto começou por volta das 11h e seguiu até perto das 16h30min, concentrado na esquina da avenida Cruzeiro do Sul com a rua Caixa Econômica. Nesse local, funciona o Centro Social Amavtron, local em que Jane Beatriz era participante ativa no atendimento de cerca de 360 crianças e adolescentes.
A sobrinha de Jane Beatriz, Tayssa Rodrigues da Silva, conta que a BM entrou na casa da tia e impediu Jane de ingressou no imóvel, assim que ela chegou: “Eles barraram ela no portão, deram um empurrão e ela caiu de uma escada”, relatou. Tayssa disse que a tia não tinha problemas de saúde, que viviam com ela cerca de dez pessoas, entre filhos, netos e bisnetos e que Jane respondia a um processo para proteger um filho. “Ela assumiu para proteger o filho, que é usuário de drogas.”
A sobrinha ainda garante que a polícia não deixou uma vizinha, que é técnica de enfermagem, prestar auxílio à tia, o que pode ter contribuído para a morte.
A Brigada Militar dá outra versão. Segundo o comandante do 1º Batalhão de Polícia de Choque, tenente coronel Cláudio dos Santos Feoli, duas viaturas foram averiguar uma denúncia de maus tratos a menores, não confirmada pelos policiais, e que quando Jane Beatriz se aproximou para entender a situação, teve um mal súbito. “Oferecemos socorro à senhora, mas os familiares não quiseram e preferiram acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu)”, destacou.
O comandante reforçou que devido à demora da ambulância do Samu, houve uma mudança de decisão da família: “Sendo assim, levamos ela de viatura acompanhada de um familiar ao posto de Saúde da Cruzeiro, onde ela foi a óbito”, acrescentou. Feoli citou uma publicação da rede social Facebook de um sobrinho da vítima, em que ele explica que a tia faleceu ao cair da escada, sem fazer menção à polícia nesse fato.
O oficial destacou que o Batalhão de Choque teve de ser deslocado porque os moradores começaram a provocar focos de incêndio com materiais inflamáveis, ateando fogo a um carro e a pneus. “Estamos aqui para desobstruir o local e proteger as pessoas de possíveis explosões que possam ocorrer”, explicou.
Segundo o reciclador de lixo Fernando Cassola, cerca de oito focos de incêndio foram provocados e o Corpo de Bombeiros precisou ser chamado para contê-los, em especial em um Chevette, com placas de Alvorada. O caminhão do Batalhão de Choque também lançou água sobre o veículo.
Líderes comunitários dialogaram com o comandante da operação, que retirou as tropas do local. No fim da tarde, o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) removeu os entulhos da rua.