O desmatamento na floresta amazônica brasileira atingiu um pico de 12 anos em 2020, mostraram dados oficiais do governo divulgados nesta segunda-feira pelo Prodes, sistema de cobertura de satélite que dá a estimativa oficial de desmatamento do país.
No período entre agosto de 2019 e julho de 2020, a destruição da maior floresta tropical do mundo aumentou 9,5% em relação ao ano anterior, para 11.088 km², de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ainda considerados preliminares.
A análise continua sendo feita e, de acordo com Cláudio Almeida, coordenador do programa de monitoramento do Inpe, o número final deve ser apresentado até fevereiro, mas a variação não deve ser maior do que 5%.
Em 2019, os números do Prodes deram o primeiro sinal de que a desmatamento no País havia voltado a crescer significativamente. Na comparação com o período anterior, de agosto de 2018 a julho de 2019, o aumento chegou a 34,4%, fazendo os olhos do mundo se voltarem novamente para os problemas ambientais no Brasil.
De acordo com os dados do Prodes de 2020, os Estados do Pará, Mato Grosso, Amazonas e Rondônia foram os responsáveis por 87,8% do desmatamento captado pelo Prodes na região da Amazônia Legal. O Pará, sozinho, derrubou 5.192 km² de floresta, o equivalente a 46,8% de todo o território devastado.
Para Mourão, trabalho está “rendendo frutos”
Presente à divulgação em São José dos Campos, o vice-presidente Hamilton Mourão, coordenador do Conselho da Amazônia, destacou que os números foram menos ruins do que o esperado, já que se previa um crescimento de até 20%.
“Não podemos comemorar, mas isso significa que o trabalho está começando a render frutos”, afirmou, repetindo que a Operação Verde Brasil, que colocou militares para tentar conter o desmatamento e as queimadas na Amazônia, começou tarde, apenas em maio. “O resultado provisório significa que precisamos manter a impulsão do nosso trabalho.”
O que dizem especialistas da área
O resultado menos ruim, no entanto, não é comemorado por especialistas da área. Gilberto Câmara, diretor do Grupo de Observação da Terra (GEO, na sigla em inglês), ligado à ONU (Organização das Nações Unida), afirmou que a estratégia de levar os militares para a Amazônia claramente fracassou.
“A estratégia de passar para os militares claramente não funcionou. Com [Ricardo] Salles [ministro do Meio Ambiente] estava ruim, piorou com Mourão. Colocaram milhões com os militares e nada aconteceu de bom”, disse.
Câmara chamou atenção para o fato de os números do sistema Deter, que medem o desmatamento mensalmente, estarem cada vez mais próximos do Prodes. Segundo ele, os dados do Deter, com melhoria de tecnologia e da própria equipe, ficaram mais precisos e o governo não precisa fechar o ano para saber onde está o desmatamento. “O Deter já mostrava que estava ruim. Não há desculpa para não agir antes, nem falta de dados”, afirmou.
Efeito estufa
Em nota, a ONG Observatório do Clima ressaltou que a taxa deste ano oficializa que o Brasil descumpriu a meta da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), que estipulou redução do desmatamento a uma taxa de máxima de 3.925 km² em 2020.
“O país está 180% acima da meta, o que o põe numa posição de desvantagem para cumprir seu compromisso no Acordo de Paris a partir do início do ano que vem. Devido ao aumento do desmatamento, o Brasil deve ser o único grande emissor de gases de efeito estufa a ter aumento em suas emissões no ano em que a economia global parou por conta da pandemia”, salienta a nota.