O Rio Grande do Sul bateu, hoje, recorde de internações simultâneas de pacientes com a Covid-19 em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). O total de pacientes chega a 755, na tarde desta quarta-feira. O maior número até então havia sido registrado em 19 de agosto quando ocorreu o que o governador Eduardo Leite chamou de “pico das internações”, durante transmissão virtual realizada nessa terça-feira.
Outro número que chama atenção é o novo recorde de pacientes com diagnóstico positivo da Covid-19 em leitos clínicos: eram 1.142 na tarde de hoje e 1.101 nessa terça-feira. Antes disso, os maiores números haviam sido verificados em 20 de novembro (1.038) e em 28 de julho (1.027).
A alta nas internações de pacientes confirmados da doença em leitos clínicos é de cerca de 60% desde 4 de novembro. Já o aumento de pacientes com diagnóstico positivo da Covid-19 em UTIs ficou em torno de 30%.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), Fernando Spilki, o “pico” registrado entre os meses de julho e agosto ficou para trás. “O pico foi agora”, define. Segundo Spilki, o volume de casos novos demonstra a velocidade da circulação do vírus, o que implica em aumento das hospitalizações e é possível que, na semana seguinte, os reflexos sejam observados no número de óbitos. “O que estamos passando agora provavelmente é o prenúncio do que vai ser uma onda bastante preocupante em cima de uma primeira onda que não se extinguiu totalmente”, destacou.
Conforme Spilki ainda há um componente importante associado ao atual contexto da pandemia: a proximidade com as festividades de fim de ano. “Os setores do comércio e serviços viam no fim do ano a possibilidade de minimizar os prejuízos ocorridos nos últimos meses… Então não devemos ver uma força nesse momento para maiores restrições”, enfatizou. “E nem sabemos se há respaldo no poder público para fazer isso”, reiterou.
Com relação ao comportamento das pessoas e a preocupação com a Covid-19, Spilki reforça que há uma liberalização muito grande. “Se continuar esse viés de subida dos casos e das internações como estamos percebendo, lamentavelmente não vai sobrar outra alternativa. Infelizmente não é só a questão das atitudes individuais, mas talvez uma atitude mesmo do ponto de vista de restrição de mobilidade e de aglomerações em caráter oficial”, pontuou.
A tendência, no entendimento de Spilki, é de que a situação piore bastante. “Infelizmente o que mais se temia parece estar se confirmando, que é uma necessidade de retorno a restrições bastante fortes”, afirmou. Além disso, Spilki assinala que há grande preocupação também com a proximidade da temporada de verão. “Nas praias não há capacidade de atendimento, essa é a realidade”, alertou. Agora, segundo Spilki, o mínimo que se pode esperar é que a população faça o que deve. “Vamos ver se a gente consegue retomar um caminho pelo menos de equilíbrio que permita o atendimento adequado a todos que precisarem acessar o sistema de saúde, mas por enquanto nossa visão é bastante pessimista”, ressaltou.
Dos 2.531 leitos UTI Adulto do Rio Grande do Sul, havia 1.917 ocupados na tarde desta quarta-feira – 75,7%. Em Porto Alegre, as internações relacionadas ao novo coronavírus nas UTIs eram de 38,72% do total, com 249 pacientes confirmados e 19 suspeitos entre os 692 em estado grave. A taxa de lotação das UTIs da capital era de 91,41%.
Procurada para falar sobre os recordes verificados nas ocupações dos leitos de UTI e clínicos no Rio Grande do Sul, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) não se manifestou a respeito. O posicionamento teve como foco exclusivamente a taxa de ocupação das UTIs. Em nota, SES-RS informou que “o governo do Estado ampliou em mais de 100% o número de leitos de UTI SUS durante a pandemia. A taxa de ocupação sempre ficou abaixo dos 80% (a maior foi de 78,3%, em 14 de agosto)”.
A Secretaria também informou que, por meio da Regulação Estadual, trabalha com o mapa de leitos de todo o estado, “não apenas de forma individual por município. Essa estratégia permite que, com a lotação dos leitos em algum município, o Estado conte com os leitos disponíveis em toda a rede hospitalar”.