Ocupação de leitos de UTI em Porto Alegre aumenta nas últimas duas semanas

Nesta sexta, rede hospitalar tinha 232 casos confirmados de coronavírus

Foto: Ricardo Giusti/CP

A flexibilização de medidas restritivas e a maior circulação de pessoas em Porto Alegre e no litoral Norte podem ter relação direta com o aumento das internações de pacientes com o novo coronavírus em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Nesta sexta-feira, os hospitais de Porto Alegre tinham 232 casos confirmados para a doença, o que representa 10,5 ponto percentual a mais do que registrado há duas semanas, quando havia 208 pacientes na mesma situação. Por conta da demanda elevada, o Moinhos de Vento restringiu atendimento a pacientes com o novo coronavírus.

Outros dez hospitais tinham taxas de ocupação acima de 80%. No litoral, o cenário se repetia e a taxa de ocupação média das UTIs da região atingia 98% de lotação. Embora especialistas afirmem que é preciso observar os desdobramentos da ampliação do horário de funcionamento de diversos setores, como do comércio, os números atuais das internações reacendem o alerta entre a comunidade médica. Professor de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Paulo Petry observa que a internação representa o “final da cadeia de um ciclo” e cita as medidas de flexibilização anunciadas nas últimas semanas, como abertura de cinemas, extensão do horário de funcionamento de shoppings e restaurantes. “Dá para ligar o alerta, pois estávamos numa fase constante de redução das internações”, pondera.

Petry vê relaxamento das medidas protetivas em função do longo período de duração da pandemia, mas alerta que a população deve seguir as recomendações das autoridades de saúde, como usar máscaras e evitar aglomeração. “Há correlação inequívoca entre aglomerações e adoecimentos”, ressalta. O médico observa que a liberação de atividades “demora de 10 a 14 dias para ter reflexos” na rede hospitalar.

Sobre a elevação de casos no litoral, Petry explica que cada vez mais as pessoas tendem a se aglomerar sob a sensação de liberdade por estarem ao ar livre. “Mesmo ao ar livre a pessoa se contamina, o vírus circula em aerossóis, partículas, gotículas. Essa falsa sensação de imunidade por estar ao ar livre é muito prejudicial”, alerta. Ele reforça que fenômeno semelhante ao que ocorre na Europa e nos EUA – onde as taxas de novos infectados pela doença dispararam nos últimos dias – pode acontecer no Brasil. “Pessoal começou a se aglomerar em bares e o vírus voltou a circular com força na Europa. Esse mesmo fenômeno pode ocorrer aqui”, frisa.

Epidemiologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), Jeruza Neyeloff explica que é preciso observar a evolução das internações durante o fim de semana e o começo da próxima para ter “noção do que está acontecendo”. “Estamos bem apreensivos, pois afinal de contas no meio da pandemia não gostaríamos de perder controle da situação”, reconhece a médica.

Ao destacar que é preciso cautela nesse momento, Jeruza reforça que a população precisa evitar comportamentos de maior risco, como aglomerações em locais fechados, embora reconheça que é bastante compreensível que as pessoas queiram retomar algumas atividades. “Se quisermos manter as escolas abertas, não podemos ter grandes aglomerações no comércio”, enfatiza. “É importante usar máscara e manter distanciamento entre grupos. É possível se permitir algum lazer sem abrir mão de alguns cuidados”, observa.

Porto Alegre
Com o aumento dos casos de Covid-19 registrados nas últimas semanas, o Hospital Moinhos de Vento informou nesta sexta-feira, por nota, que o setor de Emergência está com atendimento restrito para pacientes com suspeita de Covid-19, com sintomas leves ou quadro de menor gravidade. Conforme a nota, assinada pelo superintendente médico, Luiz Antonio Nasi, e o chefe do Serviço de Infectologia, Alexandre Zavascki, a medida é válida pelo período de 72 horas. A Emergência segue atendendo pacientes graves e pessoas sem suspeita de coronavírus.

Litoral
O aumento dos casos relacionados à Covid-19 também atinge o litoral, onde não há leitos disponíveis nos hospitais de Osório, Torres e Tramandaí. Em boletim divulgado hoje, a 18ª Coordenadoria Regional de Saúde (18° CRS) – que reúne 23 municípios do litoral – relata 11.626 casos confirmados e um novo óbito (em Imbé), totalizando 219. Há 1.354 pessoas com doença ativa e 96 pacientes recebendo atendimento. A taxa de ocupação média das UTIs da região se mantém em 98%. Balneário Pinhal não preencheu a planilha de monitoramento.