O fogo que há meses destrói parte do Pantanal, na região Centro-Oeste, já incinerou 3,461 milhões de hectares em 2020. Segundo balanço que o governo do Mato Grosso do Sul divulgou na tarde desta quinta-feira, só no estado o bioma já perdeu 1,408 milhão de hectares. Além disso, no Mato Grosso, as chamas consumiram outros 2,053 milhões de hectares.
Cada hectare corresponde, aproximadamente, às medidas de um campo de futebol oficial. Convertida, a área incinerada equivale a 34,6 mil quilômetros quadrados – um território maior que Alagoas, com 27,8 mil km².
Os dados foram apresentados pelo chefe do Centro de Proteção Ambiental do Corpo de Bombeiros do Mato Grosso do Sul, tenente-coronel Waldemir Moreira Júnior. Segundo ele, o tamanho da área do Pantanal queimada até o último dia 27 mostra que esse é um ano atípico não só para o bioma, como para toda região.
Em 2019, no mesmo período e nos dois estados, as chamas consumiram 1,559 milhão de hectares em todo o Pantanal. Ou seja, menos da metade em relação ao acumulado do an, até agora.
“Desde março, extrapolamos a máxima histórica mensal de focos de calor no Pantanal”, comentou Moreira, comparando os 18.259 focos de calor registrados no bioma entre 1 de janeiro e quarta-feira, 30 de setembro, com os 12.536 focos registrados no mesmo período de 2005, pior resultado até então. “Este ano já superamos o recorde histórico. E tudo indica que em outubro não vai ser diferente”, acrescentou Moreira.
Durante a apresentação dos números, o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar do Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, reforçou o prenúncio feito pelo tenente-coronel. “[Nos próximos dias] Teremos um incremento enorme do número de focos de incêndios no Mato Grosso do Sul”, afirmou o secretário, que disse considerar “assustador” o atual número de focos de incêndio.
Segundo o Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul (Cemtec-MS), a forte onda de calor e a baixa umidade deve persistir por no mínimo mais dez dias. Os meteorologistas preveem que, ao menos pelas próximas duas semanas, os dias ficarão ainda mais quentes, podendo inclusive superar recordes. Nessa quarta-feira, em regiões como Coxim e Água Clara, os termômetros chegaram a marcar 44,1 °C, com sensação térmica de 52° C, a mais alta registrado no estado desde 1973. Para agravar a situação, em algumas partes do Mato Grosso do Sul, a umidade relativa do ar chegou a 8%.
Focos de calor
O calor e a baixa umidade comprometem o trabalho dos bombeiros, brigadistas e voluntários que tentam conter o fogo. Quarta-feira, ao participar de uma audiência pública na Assembleia Legislativa, o secretário Jaime Verruck comentou que, na semana passada, haviam sido extintos 42 focos de calor só ao longo da linha de trem entre Campo Grande e Água Clara (um percurso de cerca de 190 quilômetros). Na última sexta-feira, havia apenas 19 focos de calor em todo o Pantanal sul-mato-grossense. No domingo, no entanto, já eram mais de mil.
“Até fomos conferir para ver se não tínhamos errado, mas isso é pra gente ver como o fogo se alastra rápido, como é difícil o combate”, comentou Verruck durante a audiência pública dessa quarta-feira. “Isso demonstra de forma clara a gravidade da perda de biodiversidade para o bioma. E temos alertado que a situação não está controlada, até para depois do feriado ainda é considerada crítica”, acrescentou o secretário estadual.
De acordo com os números apresentados pelo tenente-coronel Moreira, entre 1 de janeiro e quarta-feira, foram registrados 9.637 focos de calor em todo o Mato Grosso do Sul. Esse total coloca o estado na quinta posição entre as unidades da federação com maior número de focos de queima de vegetação. Em primeiro, segundo Moreira, está o Mato Grosso, com 39.918 focos, seguido do Pará (25.397); Amazonas (14.915) e Maranhão (9.714).
“Normalmente, o nosso estado fica em 12º, 16º, mas este ano, realmente, os incêndios, principalmente na região do Pantanal, de Corumbá e de Porto Murtinho nos colocaram nesta quinta posição”, disse Moreira, acrescentando que Corumbá (MS) ocupa o topo da relação das cidades brasileiras com maior número de focos de calor no período. Os 6.570 pontos identificados no último período correspondem a um aumento de 11,5% sobre o resultado do mesmo período do ano passado.
“Hoje, tivemos focos de incêndios em todo o estado, não só no Pantanal. Exatamente em função das condições climáticas. Houve, inclusive, o incremento de incêndios na área urbana em Campo Grande”, frisou o secretário estadual Jaime Verruck.
Números menores
Consultado pela Agência Brasil, o governo de Mato Grosso informou números diferentes dos apresentados pelo estado vizinho. A área atingida pelo fogo no Pantanal não ultrapassa o 1,861 milhão de hectares (e não os 2,053 milhões citados no balanço sul-mato-grossense).
O total de focos de calor registrados em todo o estado desde o início do ano somou, até quarta-feira, era de 20.312 (bem abaixo dos 39.918), enquanto no Pantanal foram registrados 5.859.