A Covid-19 já tirou a vida de 1 milhão de pessoas em todo o mundo, informou hoje a Universidade Johns Hopkins, referência global em dados sobre o tema. A doença causada pelo novo coronavírus apareceu pela primeira vez na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Após três meses, o vírus causou 4.291 mortes e levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar quadro de pandemia.
Agora, a análise de especialistas é de que o cenário ainda é preocupante, com os continentes enfrentando fases distintas da disseminação do coronavírus.
A OMS afirmou que a quantidade de vidas perdidas pode chegar a 2 milhões antes que uma vacina bem-sucedida seja amplamente distribuída, e pode ser ainda maior sem uma ação conjunta para conter a doença.
Há mais de 160 candidatas à vacina sendo desenvolvidas por pesquisadores com tecnologias diversificadas, algumas nunca utilizadas antes. Destas, 40 já vêm sendo testadas em humanos, de acordo de acordo com atualização feita pela OMS nesta segunda-feira.
Um relatório da ONG Oxfam mostrou que um restrito grupo de países ricos já comprou 51% de futuras doses das cinco principais vacinas em produção hoje: AstraZeneca, Gamaleya/Sputnik, Moderna, Pfizer e Sinovac.
Na última quinta-feira, o Brasil aderiu à aliança internacional, chamada Covax Facility, para garantir a produção e o acesso global aos potenciais imunizantes contra a doença causada pelo novo coronavírus. O governo federal liberou R$ 2,5 bilhões para viabilizar o ingresso na iniciativa.
De acordo com o Ministério da Saúde, a adesão vai permitir que o país tenha, entre as opções de imunizantes, pelo menos mais nove vacinas em desenvolvimento.
Diferentes fases ao redor do mundo
“Temos vários países em momentos diferentes. A Europa está entrando na segunda onda. O Brasil persiste na primeira, esse platô que nós atingimos perdura, e embora o número de mortes tenha caído, ainda é alto. E a situação da América Latina como um todo preocupa”, considera o infectologista Unai Tupinambás, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A OMS alertou para a situação da pandemia na Europa, onde os novos contágios diagnosticados na segunda semana de setembro ultrapassaram 300 mil.
“É uma situação gravíssima a que está ocorrendo na Europa, onde os novos casos semanais de coronavírus superaram os notificados quando a pandemia se manifestou pela primeira vez em março”, explicou Hans Kluge, diretor-regional da organização.
Em meio à segunda onda de contágios, países como França, Espanha, Reino Unido e Alemanha endureceram as restrições impostas a fim de impedir que o vírus se espalhe mais rapidamente.
A Espanha, país com mais casos na União Europeia, registra epicentro da pandemia em Madri. Há quatro dias, o ministro da Saúde alertou que a cidade vai passar por semanas difíceis e pediu determinação para controlar a doença.
Lígia Bahia, médica sanitarista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que há um “redeslocamento da pandemia para a Ásia” e chama a atenção para a situação da Índia.
O país ultrapassou os 6 milhões de casos de coronavírus nesta segunda-feira e, antes, havia batido um recorde ao levar apenas 11 dias para contabilizar mais um milhão de diagnósticos, quando passou de 4 para 5 milhões. Além disso, no começo de setembro, a Índia já havia superado o Brasil, agora em terceiro em número de contaminações.
Exemplo da Alemanha e da China
Entretanto, a quantidade de pessoas mortas no Brasil é bem maior e fica atrás apenas dos Estados Unidos. “Aqueles que desdenharam da ciência estão colhendo esses frutos, isso aconteceu na Inglaterra também. Já aqueles que seguiram a ciência tiveram sucesso, o exemplo maior é o da China. E a própria Alemanha teve um sucesso relativo em relação à Europa”, compara Unai.
Lígia concorda. “O maior exemplo é a Alemanha, porque a Angela [Merkel, chanceler do país] segue a ciência e vem tendo sucesso no controle de casos pós-reabertura”.
Sobre o Brasil, a professora entende a não-adesão a um lockdown como o maior erro. “Pois aí não conseguimos ter medidas adequadas ao tamanho da população. Houve o distanciamento espacial parcial, mas não foi adequado e também somos um dos países que menos testa. Sem o lockdown e sem testes, nós ficamos numa situação muito difícil”, avalia.
Como vai ser o futuro?
Ligia considera sombrias as perspectivas futuras em relação ao cenário mundial. “A vacina vai reduzir a transmissão [do coronavírus], mas não é milagre. E a primeira geração de vacina sempre é menos eficaz que a quarta”, ressalta. Ela reitera ser muito importante que haja testagem [em massa]. “Porque vamos ter casos positivos [no Brasil] mesmo com o advento da vacina”, completa.
Unai é mais otimista em relação aos potenciais imunizantes e lembra que ainda existem muitas perguntas sem resposta sobre como o próprio corpo combate o coronavírus – a começar pelo papel da imunidade celular na guerra travada pelo sistema imune.
“Tudo isso pode impactar. Se as vacinas se mostrarem eficazes e houver testes rápidos [de diagnóstico] a gente pode mudar bastante o controle da pandemia. São inúmeras variáveis”, pondera. “Mas claro que não se pode implantar medidas com base na esperança, é necessário manter os cuidados com a prevenção: lavar as mãos, evitar aglomeração, distanciamento social e máscara”, enfatiza.