Confira o que se sabe sobre Covid-19 em crianças

Fatores de risco para crianças diferem de adultos e, embora a grande maioria fique assintomática, algumas desenvolvem síndrome inflamatória

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Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil

Crianças podem ter Covid-19 grave? Sim, apesar de ser muito menos frequente. Um estudo publicado no jornal científico BMJ analisou 651 crianças que tiveram a Covid-19 no Reino Unido. Dessas, 18% precisaram de cuidados intensivos, 9% de ventilação não invasiva e 9% de ventilação mecânica. O infectologista Marcelo Otsuka, da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), explicou que a chance de morte é ainda menor. “Cerca de 70% das crianças vão ser assintomáticas, das que apresentam sintomas, a taxa de mortalidade é de 0,1%.”

A principal hipótese de crianças serem menos afetadas pela doença do que os adultos é a de que o receptor ACE2, ao qual o Sars-Cov-2 se liga, é menos expressivo nas células de crianças. “Conforme vai passando a idade, esse receptor vai ficando mais atuante”, afirmou o infectologista. Outra suposição é a de que a vacina BCG, que protege contra tuberculose e é administrada na infância, possa conferir algum tipo de proteção. Uma terceira hipótese é que a presença de outros coronavírus, comuns em pediatria e que provocam o resfriado comum, podem conferir uma imunidade cruzada, ainda segundo o médico.

Os fatores de risco para crianças são os mesmos que em adultos? Otsuka explicou que sempre que existe uma comorbidade ou doença de base há maior risco de haver um agravamento da doença. “Ainda sim, a gravidade é muito menor, mesmo em crianças com doenças graves como câncer.” Um estudo realizado pelo Instituto I’Dor de Pesquisa e Ensino com 79 pacientes de covid-19 de 1 mês a 19 anos mostrou que 41% apresentavam comorbidade e, diferentemente dos adultos, as doenças mais registradas eram as neurológicas e respiratórias crônicas, como asma.

O infectologista explicou que em crianças os sintomas mais comuns são nas vias áreas superiores, sem a presença de pneumonia e falta de ar, como nos adultos. Além disso, sintomas gastrointestinais, como diarreia, são mais frequentes, estando presente em cerca de 20% das crianças sintomáticas. “Pode ser uma manifestação única ou preceder o quadro respiratório.” Além disso, as crianças não apresentam a tempestade inflamatória que está sendo observada em adultos. “Nos adultos, estamos usando antitrombóticos por conta dessa tempestade, nas crianças é muito raro precisar utilizar.”

Otsuka explicou ainda que alguns estudos apontam que a carga viral é maior em crianças menores de 5 anos, mas isso não reflete em uma transmissibilidade maior e não está associado a casos mais graves. “Isso acontece com outros vírus também. Crianças têm cargas virais mais altas, mas ainda não podemos afirmar que elas transmitem mais.”