Números altos da Covid-19 frustram campanha de rua em Porto Alegre

Corpo a corpo deve acontecer somente em situações específicas e ser concentrado no final da corrida eleitoral em Porto Alegre

Foto: Joel Vargas/PMPA

O corpo a corpo ficará de fora das campanhas em Porto Alegre durante boa parte do calendário eleitoral. O motivo é a manutenção dos números altos de contágio e internações pela Covid-19 na cidade. A Capital retornou para a bandeira vermelha no modelo de classificação do governo estadual. Com isso, os pré-candidatos à Prefeitura projetam realizar a campanha de rua somente em casos muito específicos. Entre eles, intensificar as atividades nas duas últimas semanas antes do primeiro turno, marcado para 15 de novembro.

Visitas de casa em casa e as reuniões presenciais com lideranças comunitárias de bairros e regiões estão descartadas. Também não são consideradas, pelo menos por enquanto, aparições em eventos e pontos tradicionais, como feiras, a Esquina Democrática e o Largo Glênio Peres. A reportagem do Correio do Povo conferiu quais as estratégias devem ser adotadas por partidos e coligações a fim de driblar a Covid-19 e conseguir falar diretamente aos eleitores.

Marchezan pela reeleição

Em Porto Alegre, entre os que já se apresentam como candidatos, há uma preocupação comum com uma vantagem do prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB). O candidato à reeleição tem contato direto com os eleitores, justamente por ser prefeito. Fazem parte de suas funções, por exemplo, a supervisão in loco de obras, serviços e condições de infraestrutura de diferentes bairros.

O chefe do Executivo também faz o lançamento presencial, mesmo que com poucos participantes, de campanhas e iniciativas da administração. Quem acompanha as redes sociais de Marchezan sabe que, durante todos os longos meses de pandemia, e cumprindo protocolos como o uso de máscara, ele não deixou de anunciar ou vistoriar trabalhos pela cidade.

Estratégias de MDB, PTB e PSOL

De olho na exposição do adversário, a equipe do ex-prefeito José Fortunati programa ações presenciais. O pré-candidato do PTB deve aparecer em gravações e lives, em lugares construídos ou que receberam obras quando ele foi prefeito. “Casa em casa não fazemos. Reuniões presenciais, se necessário, são pequenas, no auditório do partido. O Fortunati mantém agenda intensa de lives com pré-candidatos a vereador, lideranças comunitárias e setoriais. Estamos trabalhando em todas as redes, com pockets e vídeos temáticos. E estudamos distribuição de material programático protegido”, elenca o presidente do PTB de Porto Alegre, Everton Braz.

Estratégia semelhante segue o pré-candidato do MDB, o deputado estadual Sebastião Melo. O ex-vice-prefeito é conhecido pelo costume de acompanhar situações nas mais diferentes regiões da cidade, com destaque às periferias. “O Melo é um caminhador da cidade e isso obviamente não vai cessar. Mas respeitando o padrão de cada pessoa ou grupo e todos os protocolos e limites. Nosso foco, na largada, serão as atividades virtuais e a tendência é conduzir a campanha de forma híbrida, como já fazemos. Encontros maiores são online e, os menores, presenciais”, destaca o coordenador da campanha e pré-candidato a vice, o vereador Ricardo Gomes (DEM).

A coligação PSOL/PCB/UP, que tem a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL) como pré-candidata também planeja atividades presenciais específicas. Como a realizada na última sexta-feira, quando a deputada conversou com usuários do transporte coletivo em filas e fez uma viagem. O objetivo, conforme o coordenador político da campanha, Bernardo Corrêa, foi comprovar aglomerações decorrentes da redução da frota e os riscos de contágio. “As redes sociais têm muito peso para nós mas nossa ideia é sim ter atividades de rua, com todos os cuidados possíveis. Nos primeiros 10 dias de campanha faremos uma caravana, a ‘Pé no Bairro’, com caminhão de som e distribuição de materiais em kits higienizados”, adianta.

PCdoB e PDT apostam em campanha virtual

Enquanto concorrentes planejam inserir algumas atividades de rua nas campanhas desde seu início, algumas candidaturas concentram esforços nas redes sociais. É o caso das pré-candidatas do PCdoB, Manuela D’Ávila, e do PDT, Juliana Brizola. Os coordenadores de ambas as campanhas afirmam que o corpo a corpo deve ganhar peso, se a situação permitir, na reta final da corrida.

O coordenador da campanha de Manuela, Márcio Cabreira, assinala que a ex-deputada tem realizado algumas saídas muito pontuais, como a participação recente em um ato sobre o Mercado Público. No entanto, ressalta que a política não tem feito e nem pretende fazer agendas que possam gerar aglomerações, ou mesmo o porta a porta, enquanto persistirem os atuais índices de contaminação. “O que priorizamos, inclusive em respeito a linha adotada pela Manuela, de defesa do distanciamento social para conter a circulação do vírus, foram nove encontros regionais, reuniões temáticas e lançamentos de pré-candidaturas de vereadores, tudo online. Isso resultou em uma agenda de reuniões pelo menos três vezes por semana. Já partimos de um cenário no qual a presença da Manuela nas redes é constante e comum”, aponta.

O coordenador da campanha de Juliana, o deputado federal e presidente do PDT no RS, Pompeo de Mattos, tem entendimento parecido. Segundo ele, Juliana defende o distanciamento social como forma de conter o avanço da doença desde seu início. Por isso, a campanha não muda esta avaliação. “A orientação da Juliana é esta e a minha também, e vamos seguir. Não vejo isso de panfletear no Centro, aglomerar, ficar passando de casa em casa. Lá no final, se as coisas melhorarem, quem sabe. Por enquanto, vamos atuar com força pelas redes sociais. É diferente? É. Tem gente que precisa se acostumar ainda? Tem. Mas está confirmado que é possível”, assinala Pompeo.