Chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba há seis anos, o procurador da República Deltan Dallagnol confirmou a saída do grupo, na tarde desta terça, em vídeo publicado no Twitter. Na gravação, Deltan garante que a operação “vai continuar firme”, que há “muito a fazer” e que a Lava Jato “precisa de suporte”. Além disso, deixa claro que a saída não se trata de uma despedida e que “vai continuar a lutar contra a corrupção como procurador e como cidadão”.
O procurador explica que deixa o comando da Lava Jato em Curitiba porque a filha de um ano e dez meses passa por uma série de exames e acompanhamentos, devendo começar uma série de terapias e tratamentos que existem cuidado maior. “Depois de anos de dedicação intensa à Lava Jato eu acredito que agora é hora de eu me dedicar de modo especial para a minha família. Vou continuar trabalhando como procurador, mas aquelas horas extras que investi em noites, finais de semana e feriados eu vou precisar agora focar na minha família”.
Deltan também confirmou que vai ser substituído por pelo procurador Alessandro José Fernandes de Oliveira, que atualmente compõe o grupo de trabalho da Lava Jato da Procuradoria-Geral da República (PGR), chefiado pela subprocuradora-geral Lindôra Maria Araújo. No vídeo, o procurador afirmou que Alessandro é um procurador competente, além de ser “colaborador da Lava Jato”.
O chefe da força-tarefa em Curitiba lembra que Alessandro vai integrar uma equipe de 14 procuradores, alguns deles já dedicados à investigação praticamente desde o início, em 2014. Além disso, ao pedir apoio à operação, o procurador reitera que a força-tarefa vai continuar firme, mas que ‘decisões que estão sendo e serão tomadas’ em Brasília vão afetar os trabalhos do grupo.
Nos últimos meses, Deltan se tornou alvo de contestações no Conselho Nacional do Ministério Público, inclusive com pedidos de remoção compulsória.
Além disso, a força-tarefa de Curitiba passou a ser criticada pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, que já disse ser preciso uma “correção de rumos’” na operação para evitar o que chama de excessos.
O procurador-geral buscou o Supremo Tribunal Federal para exigir acesso ao banco de dados da operação, que contém informações sigilosas sobre os investigados, mas o ministro Edson Fachin, relator do caso na Corte, barrou a investida. Aras deve decidir ainda esse mês sobre a prorrogação das forças-tarefas, ao mesmo tempo em que tramita na Procuradoria-Geral de República um projeto para unificar os grupos sob uma coordenadoria em Brasília.
Em nota, integrantes da força-tarefa da Lava Jato no Paraná agradeceram Deltan: “Desempenhou com retidão, denodo, esmero e abnegação suas funções, reunindo raras qualidades técnicas e pessoais. A liderança exercida foi fundamental para todos os resultados que a operação Lava Jato alcançou, e os valores que inspirou certamente continuarão a nortear a atuação dos demais membros da força-tarefa, que prosseguem no caso”, afirmaram.
O procurador Robson Pozzobon, colega de trabalho de Deltan, também destacou o trabalho do chefe da força-tarefa: “Deltan Dallagnol fará muita falta na força-tarefa Lava Jato. Sua imensa contribuição ao caso fez toda a diferença. Agora o importante é que se dedique ao máximo a sua família. Mais uma vez, acerta em sua escolha e tem nosso total apoio e admiração”, afirmou em seu perfil no Facebook.
O ex-ministro Sergio Moro, que já defendeu Deltan em ‘ataques’ à Lava Jato, também se manifestou sobre a saída do procurador do comando da operação em Curitiba: “Parabenizo o Procurador Deltan Dallagnol pela dedicação à frente da Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba, trabalho que alcançou resultados sem paralelo no combate à corrupção no País. Apesar de sua saída por motivos pessoais, espero que o trabalho da FT possa prosseguir.”