Aulas presenciais seguem sem data para retornar em Porto Alegre

Em reunião na prefeitura, dirigentes de escolas privadas adotaram cautela; assunto volta à pauta em duas semanas

Foto: Guilherme Testa/CP

Dirigentes de escolas da rede privada de ensino estiveram reunidos, nesta quinta-feira, com o prefeito Nelson Marchezan Jr. e equipe técnica da prefeitura para avaliar a evolução da pandemia e projetar a retomada das aulas presenciais em Porto Alegre. O encontro, no entanto, terminou de maneira inconclusiva, uma vez que não houve definições.

“Precisamos começar a construir protocolos, que sejam simples e fáceis de serem compreendidos, fiscalizados e executados. Não é uma reunião para definirmos datas, mas para formarmos uma convicção conjunta”, salientou Marchezan. Segundo ele, Porto Alegre abriga cerca de 380 mil estudantes, dos quais 91 mil do ensino superior.

O presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS) e diretor-proprietário da Sociedade Educacional Monteiro Lobato, Bruno Eizerik, revelou que, por conta da pandemia, houve incremento da evasão escolar e da inadimplência. “Sabemos da situação, o momento é complicado, mas a preservação da vida está em primeiro lugar”, afirmou. Ele lembrou que a rede privada começou com aulas remotas em março, acrescentando que as crianças da Educação Infantil e das primeiras séries do Ensino Fundamental sofrem mais com o ensino remoto.

“O importante, neste momento, é trabalhar a ideia de voltar e quando voltar. Em junho, o governo do Estado estabeleceu protocolos que já nos adaptamos a eles. Precisamos voltar porque estamos preocupados com nossas crianças. É preciso construir um protocolo e um calendário de volta às aulas em Porto Alegre, mas não temos uma proposta pronta”, frisou. Em nota, a entidade lamentou a falta de definição de um calendário.

Diretores de escolas pedem cautela
A retomada do ano letivo presencial, porém, não é um consenso entre os dirigentes das escolas da rede privada de ensino. “Nos preocupamos com o valor da vida, não queremos ser pressionados por questões políticas e financeiras. Quem vai ser responsável pela primeira morte de aluno da Educação Infantil ou de um professor?”, questionou Rogerio Alencar Ferraz de Andrade, diretor-pedagógico do Colégio Vicentino Santa Cecilia.

A diretora educacional do Colégio Santa Dorotéia, Marinice Simon, não deseja um “retorno imediato e inseguro”. “Nos preparamos e organizamos o ambiente para retornar com relativa segurança, mas menos de 30% dos pais de alunos da Educação Infantil querem uma volta neste momento. Temos professores que vão de uma escola para outra. Hoje vivemos uma confortável situação de educação remota. Os professores se reinventaram”, afirmou. “Não é o momento de retomar as atividades, mas de aguardar”, enfatizou.

A presidente da Associação Cruzeiras de São Francisco, Iriete Ignez Lorenzetti, igualmente não é favorável ao retorno presencial. “Passamos por problemas financeiros, perdas de alunos e inclusive precisamos apoiar algumas famílias de alunos, com a doação de alimentos. Por questão de defesa da vida, os pais são contrários ao retorno à escola agora”, comentou.

Já o diretor-geral do Colégio Anchieta, Jorge Knapp, também é adepto da cautela: “Há uma possibilidade de não termos aulas presenciais em 2020”, admitiu.

O dirigente do Sinepe-RS disse não ter dúvidas de que o retorno deva ser escalonado e que por questões cognitivas, financeiras e educacionais, o melhor é que a a volta “comece pelos pequenos”.

O diretor-administrativo do Colégio Província de São Pedro, Guilherme Bolognesi Peretti, concordou que as crianças das séries iniciais ficaram mais prejudicados no meio do ensino remoto. “Há crianças sendo alfabetizadas à distância. Ao mesmo tempo, não tenho tranquilidade em imaginar o primeiro dia de aula, vai ser extremamente desgastante, pois teremos que conviver com a insegurança. Não existe saída fácil, pois os pequenos terão maior dificuldade de seguir os protocolos”, argumentou.

Jorge Alexandre Bieluczyk, diretor da Rede La Salle de Educação Porto Alegre, observou que “a vida está acima de tudo, mas em algum momento teremos de retornar”.

Assunto volta à pauta em duas semanas
O prefeito salientou que para que ocorra o retorno, há necessidade de transformação, sugerindo que seja avaliada a possibilidade de adoção de metodologia mista, contemplando o presencial e o remoto. “Os protocolos em si, de nossa parte, serão baseados em evidências científicas que garantam proteção aos alunos, professores e seus familiares. Não vamos exigir nada que seja economicamente inviável”, sintetizou.