A boa rentabilidade do milho e da soja na safra que se encerra estimula os produtores brasileiros a aumentar a área dessas culturas no período de 2020/21. No agregado, o Brasil pode colher 278,7 milhões de toneladas de grãos, aumento de 8%, segundo cálculos estatísticos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) com base em inúmeros dados de campo, previsões climática e imagens de satélites. Esse volume representa a produção de 15 grãos, sendo que milho, soja, algodão, arroz e feijão participam com 95% do total.
Esses dados fazem parte das Perspectivas para a Agropecuária Safra 2020/21 – Edição Grãos, divulgadas nesta terça-feira pela Companhia.
A safra de soja é prevista pela Conab em 133,5 milhões de toneladas e a de milho, em 112,9 milhões de toneladas no próximo ano. A projeção de aumento da colheita da soja decorre da expectativa de melhor produtividade, que pode chegar a 3.526 quilos por hectare, e também da ampliação na área, estimada em 3% – atingiria 37,86 milhões de hectares. O avanço do grão ocorre principalmente em áreas de pastos degradados, de renovação de cana-de-açúcar e também há casos de troca de cultura.
O interesse pela oleaginosa reflete a expectativa de que continue boa sua rentabilidade. Os preços do grão devem se manter elevados, alavancados pela valorização do dólar e pela boa demanda internacional. Evidência desta demanda é o ritmo de vendas antecipadas. Conforme levantamento da Conab, até o início de agosto, cerca de 40% da safra 2020/21 já havia sido vendida, contra 20% há um ano. O panorama também é positivo para o consumo interno. Há tendência de aumento pela elevação de 12 para 13% de biodiesel no diesel a partir de março do ano que vem e também pelo bom ritmo de produção de carnes.
O mercado do milho também é influenciado pelo câmbio e pelas carnes, e o aumento de área com esse grão é estimado em 7%, chegando a 19,78 milhões de hectares nas três safras – em 2019/20, a primeira safra produziu 23% do total, a segunda contribuiu com 74% e a incipiente terceira safra, com 3%. A produtividade média pode melhorar 3%, segundo a Conab, indo para 5.709 kg/ha.
No cenário internacional, a possibilidade de menor investimento na produção de grãos na Argentina pode abrir novas possibilidades de mercado para os produtores brasileiros. A previsão da Conab é de que as exportações brasileiras de soja aumentem 5,8%, indo para 86,79 milhões de toneladas – a China pode comprar cerca de 80% desse volume. As de milho são estimadas em 39 milhões de toneladas, crescimento de 13%.
Outros grãos – O arroz também tem proporcionado boa rentabilidade aos produtores, e a Conab estima que aumentem em 12% a área cultivada em 2020/21. A produtividade, no entanto, pode não ser tão boa quanto à da safra que se encerra, quando as condições climáticas foram muito favoráveis. Prevê-se queda de 4%, o que resultaria em colheita de 11,98 milhões de toneladas.
O ritmo de exportação e importação, segundo a Conab, deve permanecer estável. Já o consumo interno poderá aumentar em 5,1% em relação ao da atual safra, podendo atingir 10,8 milhões de toneladas – ainda inferior à média dos últimos 10 anos. Nesse contexto de oferta ajustada à demanda, os preços internos tendem a se manter firmes. Por outro lado, a alta dos custos poderá afetar a rentabilidade do produtor.
No caso do feijão, a Conab sinaliza que este pode ser o terceiro ano seguido em que a produção brasileira se encontra bem ajustada à demanda. O Brasil tem três safras de feijão por ano. O resultado de uma safra, bem como das lavouras concorrentes por área com o feijão, influencia a decisão de investimento da safra seguinte.
Com base em dados disponíveis até o momento, a Conab estima que produtores venham a colher 3,040 milhões de toneladas de feijão em 2020/21. A área total, por enquanto, é considerada estável, em 2.920,7 mil hectares, e a produtividade média seria de 1.041 kg/ha, queda de 4% sobre a média do ano safra anterior.
O mercado de algodão tem sido fortemente atingido pela pandemia, o que desestimula o plantio. O prognóstico da Conab é de redução de 11% da área e de 2% da produtividade na safra 2020/21. A colheita se limitaria a 2,555 milhões de toneladas de pluma, queda de 12%. A recuperação deste mercado está diretamente ligada ao restabelecimento da demanda global pelo produto, que depende do reaquecimento da economia.