Tecnologia anticovid é incorporada a lojas, escolas e indústrias do país

Objetivo dos empresários, além de evitar a infecção pelo novo coronavírus, é reforçar a sensação de segurança de clientes e empregados

Foto: Ricardo Giusti / CP

Quem passou os últimos meses apenas dentro de casa pode se surpreender ao voltar a fazer as compras nos próximos dias. Tapetes que higienizam a sola dos pés, cabines antissépticas e câmeras que detectam se as pessoas do ambiente têm febre e usam máscaras mostram que as empresas estão se esforçando para garantir a sensação de segurança de clientes e empregados contra a Covid-19.

Alguns produtos prometem utilidade também após a crise sanitária. É o caso das câmeras que controlam o fluxo de pessoas nas lojas, que podem continuar evitando aglomerações, afinal, com ou sem o risco de pegar Covid-19, excesso de gente desagrada e atrapalha o consumo.

Câmeras termográficas dão temperatura exata de cada pessoa (Foto: Dealer Shop / Divulgação).

Da mesma forma, tótens com álcool gel e tapetes que limpam os sapatos significarão higiene e saúde mesmo quando a doença deixar de ser um fantasma.

O tecnólogo Rubens Branchini, diretor-comercial da Dealer Shop, diz que ganhou mercado na pandemia as câmeras termográficas, que identificam em grupos de pessoas aquelas que estão com febre.

Os dispositivos tornam desnecessário o uso de termômetros na frente dos estabelecimentos, prática corriqueira nos últimos meses, e não exigem que o consumidor perca tempo parado e forme fila.

“Essa câmera faz a medição a distância e tem uma margem de erro baixa, de 0,3 grau apenas. Ela tanto pode emitir um alerta sonoro quanto avisar o gerente da loja ou o segurança que determinado cliente está com a temperatura alta”, explica Branchini.

O sinal é discreto para evitar o constrangimento do delatado e o pânico entre os outros consumidores, e é calibrado de acordo com o que a empresa considerar ideal. Pode, por exemplo, barrar somente aqueles com febre mais alta, liberando os outros por perceber que todos estão de máscara.

A câmera, diz o tecnólogo já custou mais de R$ 150 mil e era usada em operações militares para localização de pessoas em florestas ou no meio de escombros em deslizamentos, mas ficou mais em conta durante a pandemia. Hoje é vendida entre R$ 25 mil e R$ 30 mil.

Pode ser cara, principalmente para empresários com menor poder aquisitivo, por isso é mais indicada a centros de compras maiores ou locais que costumam ter grandes aglomerações, como aeroportos, igrejas, museus.

Bianchini acrescenta que o sistema pode ser integrado com outros softwares para oferecer serviços extras. Um deles é o de controle do número de pessoas no local.

Lotação máxima de pessoas: 

O sistema direct flow (fluxo direto) é colocado em cada uma das portas. A instalação custa R$ 4 mil por entrada na Dealer Shop e a partir de R$ 750 mensais o monitoramento.

Direct Flow controla entrada e armazena dados (Foto: Dealer Shop / Divulgação)

Um painel na frente da loja avisa quantas pessoas ainda cabem no ambiente, autorizando apenas o limite programado. Depois disso, avisa aos consumidores que eles vão precisar esperar mais um pouquinho.

O empresário pode receber informações online sobre a lotação.

A intenção da fabricante do produto é aprimorar o relatório na segunda versão do direct flow, entregando dados mais detalhados do monitoramento como horários em que o local foi mais procurado, quando há mais homens ou mulheres na loja ou quais as vitrines chamam mais a atenção.

Identificação digital: 

Uma pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Segurança Eletrônica (Abese) nos meses de abril e maio com indústrias, distribuidores e prestadores de serviço do Brasil, mostrou que 40% das empresas notaram o aumento da procura por soluções de segurança relacionadas com a prevenção à Covid-19. Segundo o levantamento, entre os produtos mais buscados estão as câmeras termográficas e a tecnologia de reconhecimento facial.

Câmera de reconhecimento facial (Foto: Dealer Shop / Divulgação)

As câmeras que fazem o controle de acesso facial liberam as catracas sem que o funcionário ou convidado precise tocá-la. E, em tempos de pandemia, ainda mede a temperatura e checa se a pessoa está sem febre.

O sistema desenvolvido pela Dealer Shop sai por volta de R$ 14 mil. De acordo com o diretor-comercial do grupo, a escolha é ideal para condomínios residenciais, centros empresariais ou clubes. “Você faz o pré-cadastro dos que frequentam o local e eles nem precisam avisar o porteiro.”

Branchini diz que também no caso das câmeras que deduram quem está com febre fica a critério da empresa definir quem pode ou não entrar. “Se o espaço respeitar distanciamento, o parâmetro definido pode ser o de aceitar quem está com a temperatura apenas um pouco mais alta, mas obrigatoriamente de máscara.”

A agilidade e simplicidade de todo o processo é um ganho que veio para ficar. Com um termômetro acoplado, a Teleinfo Soluções comercializa um terminal de autoatendimento que confere a temperatura dos clientes pelo pulso e só libera a entrada após a verificação do uso de máscaras.

Toda operação demora menos de um segundo e o totem pode atender até 30 pessoas por minuto, evitando filas na entrada. “O terminal armazena até 10 mil faces e possui taxa de reconhecimento de 90% com máscara e 99% sem”, detalha Luciana Cartocci, diretora-executiva da Teleinfo.

Medição de temperatura e álcool em gel:

A empresa Projetos Especiais, de São Paulo, pôs no mercado uma alternativa que une medição da temperatura e entrega de álcool em gel em um único ponto. Pode ser colocado na entrada de estabelecimentos ou dentro de qualquer espaço que receba público.

Era vendido a R$ 4.600, mas com o aumento de ofertas no mercado hoje sai por R$ 2.900, diz Luciano Farias Martins, dono da empresa.

Ele conta que seus totens funcionam por sensor de presença, o que evita o contato com as embalagens do álcool em gel. E abrem mão dos pedais, que prejudicariam, segundo o empresário, usuários com deficiência física.

O totem sem o termômetro sai por R$ 990, mas pode ser alugado por R$ 100 mensais.

Martins, que tem entre seus principais compradores as escolas, revela que as vendas despencaram desde que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou no início de agosto que as aulas não voltariam em setembro. “Caiu 90% quando ele falou que o retorno deveria ser em outubro.”

Luzes UV no Xô vírus:

A Xô Vírus tem no seu catálogo um tapete com duas lâmpadas de raios ultra-violeta, que prometem expulsar 99% das impurezas em apenas 9 segundos. Custa R$ 1.500.

Tapetes com raios UV evitam a entrada de doenças recolhidas na rua (Foto: Xô Vírus / Divulgação)

Luciano Martins afirma que a opção com as lâmpadas UV pode fazer sucesso além de 2020. “Acho que todo mundo vai se preocupar um pouco mais em não trazer doenças para dentro de casa”, analisa.

Em nota de 5 de agosto, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) admitiu a eficácia do uso de raios UV para desinfecção contra o coronavírus, mas só em condições “muito específicas e controladas quanto à área irradiada, ângulo de exposição, intensidade e dose de radiação, sobre superfícies lisas e limpas”.

O órgão recomenda que não se utilize qualquer equipamento com UV
para desinfectar mãos ou outras zonas da pele, para evitar danos à saúde.

Em outras palavras, o tapete tem de ser usado por pessoas calçadas, mata bactérias, mas há dúvidas sobre sua capacidade de eliminar o vírus Sars-Cov2, responsável pela Covid-19.

Cuidado! Não entre em qualquer cabine: 

Cabines que utilizam o raio UV não são indicadas para lugares ocupados por seres humanos e podem até levar a doenças, em vez de previní-las.

Íons de prata contra a Covid-19 (Foto: Ecovidas / Divulgação)

Outro modelo de túnel ou cúpula causou polêmica recentemente por espirrar nos candidatos à desinfecção o digluconato de clorexidina. A substância química não só tinha poder duvidoso contra o vírus como, mal usada, estimularia o câncer e prejudicaria a visão.

Diante de tanta insegurança em relação às cabines, a Ecovidas pôs no mercado uma opção que, segundo a empresa, impediria a entrada do vírus em ambientes fechados sem pôr em risco a saúde de ninguém.

A solução desenvolvida por um cientista do laboratório IPClin, de Jundiaí (doutor Cassiano Escudeiro), foi a borrifação de íons de prata (nanoprata) nos recém-chegados por 3 segundos.

“A gente está em um momento no qual é essencial evitar a proliferação do vírus e esse produto, desenvolvido por um cientista brasileiro e aprovado pela Anvisa, é uma arma importante porque faz exatamente isso”, diz o assessor de imprensa da empresa, Marcio Marinello de Mendonça.

A cabine antisséptica, que custa, dependendo do tamanho necessário, entre R$ 3 mil e R$ 9 mil, é instalada pela Ecovidas na entrada de salas, clubes ou quaisquer pontos que tenham fluxo de pessoas. Os jatos de nanoprata, segundo a fabricante, eliminam o vírus depositado em roupas e na pele e garantem “imunidade” por mais 12 horas.

Vale uma explicação: o produto promete eliminar o Sars-Cov2 das superfíceis e impedir que ele se instale ali por 12 horas, mas não evita o contágio. Logo, se alguém contaminado tossir em um sujeito que acabou de se limpar na cabine, ele será infectado se o vírus entrar em sua boca ou nariz. Também por isso, qualquer que seja a proteção adicional, é sempre importante usar máscaras.

Com o mesmo produto, a Ecovidas vende uma espécie de repelente contra o novo coronavírus, por R$ 25 a embalagem com 150 ml, e totens que espalham os íons de prata.

O totem sai entre R$ 2.500 e R$ 4.500 e suporta até 150 passagens. Depois dessa marca, é preciso reabastecer o compartimento com as nanopratas. O galão de 5 litros custa R$ 60.